segunda-feira, 4 de maio de 2015

Samba de paulista versus samba de carioca. Há diferença entre eles?

Gênero brasileiro se diferencia nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro
Boa parte brasileiros talvez não consiga diferencia-los. Mas os sambistas mais tradicionais dizem que sim; há diferença entre eles. E de acordo com a pesquisadora Lígia Nassif Conti, a origem rural e o ritmo marcado marca a característica do samba de São Paulo. De acordo com sua tese A memória do samba na capital do trabalho:os sambistas paulistanos e a construção de uma singularidade para o samba de São Paulo, realizada no Departamento de Historia Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a FFLCH, da Universidade de São Paulo, e publicada na Agência de Notícias da USP, o principal argumento dos sambistas para diferenciar os dois sambas estaria nas suas origens e no espaço que obtiveram dentro das cidades. Acredita-se que em São Paulo, o gênero tenha surgido em meados da década de 1910, nas festas das colheitas de café, assumindo uma tradição rural negra, carregada dos batuques afro-brasileiros, além do sotaque caipira e um ritmo mais marcado. E uma cidade cosmopolita como São Paulo e seu progresso restringiram os espaços informais como reduto do samba, ao contrário do Rio de Janeiro onde o samba é o ritmo-mor. 

A valorização do “samba rural” seria, segundo Lígia, uma tentativa de mostrar ao mundo outras facetas da cidade de São Paulo. Relembrando o samba marcadamente negro, rural e popular, os defensores do samba paulista vão na contramão da exaltação do progresso da cidade.


Lígia analisou 20 canções, compostas entre 1968 e 1991, de Geraldo Filme, Osvaldinho da Cuíca e Toniquinho Batuqueiro. E foi possível perceber uma “narrativa de lamentação”, de saudade, e o uso de certos instrumentos tipicamente caipiras como bumbo, caixa e reco-reco de bambu, utilizados nas manifestações do samba na cidade de Pirapora do Bom Jesus. Além deles, também compõem a lista de “instrumentos tracionais” a frigideira e a caixa de engraxate, recorrentes nas realizações do samba na capital.


Com a oficialização do Carnaval, em 1968, os antigos cordões e blocos de carnaval são padronizados aos moldes cariocas. E Lugares como o Largo da Banana — onde está atualmente o Memorial da América Latina — conhecidos pelas rodas de samba, são engolidos pelo desenvolvimento paulistano.Há grande repercussão nas composições de samba, que vão, aos poucos, perdendo sua caracterização caipira. Então, a partir desse marco cronológico, o discurso de diferenciação do samba ganha força. E finalmente, no final de 2013, o reconhecimento institucional veio com o tombamento do samba paulistano como patrimônio imaterial de São Paulo.


Ilustração: Internet

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