Textos inéditos falam da sua condição de mulher negra e pobre |
Com a morte da mãe, em 1937, viu-se obrigada a mudar-se para São Paulo. Construiu sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer coisa que pudesse encontrar. Vendia papel que recolhia todas as noites das ruas. Quando encontrava revistas e cadernos antigos, os guardava para fazer suas anotações. Nascia a escritora.
Começou a escrever sobre o cotidiano dos moradores da favela do Canindé, umas das primeiras de São Paulo. Incluía também nos escritos, os fatos políticos e sociais que via. Descrevia como a pobreza e o desespero podem levar pessoas boas a trair seus princípios simplesmente para conseguir comida para si e suas famílias. Isso aborrecia seus vizinhos que não eram alfabetizados, e que se sentiam desconfortáveis por vê-la escrevendo; ainda mais sobre eles. Mesmo com todos os percalços, escreveu seu primeiro livro.
O jornalista Audálio, entre Carolina, à esq. e Ruth de Souza, hoje atriz |
O livro foi um sucesso de vendas. A tiragem inicial, 10 mil exemplares, esgotou-se em três dias, outros 90 mil foram vendidos em seis meses. Ainda que escrito numa linguagem simples e deselegante, foi traduzido para treze idiomas e tornou-se em best-seller na América do Norte e na Europa. Mais uma vez, os escritos de Carolina despertaram a fúria dos vizinhos. Chamavam-a de prostituta negra que havia ficado rica por escrever sobre a favela, mas que se recusava a compartilhar os ganhos. Jogavam pedras e penicos cheios nela.
Teve vários relacionamentos amorosos, mas evitou o casamento, por ver muitos casos de violência doméstica. Teve três filhos, de pais diferentes, um deles, um homem branco e rico. Pobre e esquecida, Carolina Maria de Jesus morreu em 1977, aos 62 anos, de insuficiência respiratória.
Mais viva do que nunca
A historiadora Elena Pajaro Peres desenvolve no Instituto de Estudos Brasileiros, IEB, da Universidade de São Paulo, a USP, pesquisa de pós-doutorado sobre a diáspora africana nos manuscritos de Carolina. Elena identifica um elo com a cultura de Cabinda, hoje província de Angola, que liga a escritora à África Central. O avô de Carolina era um ex-escravo e seus pais vinham dessa região de cultura banto, onde o exercício da formação moral e da busca do caminho reto era feito por meio de diálogos e provérbios.
A presença da escritora em círculos acadêmicos do Brasil e do exterior contrasta com o quase total desconhecimento de seu nome pelo público leitor. Carolina publicou outros três livros em vida, com repercussão menor comparados à obra que a celebrizou. E deixou guardadas mais de 5 mil páginas manuscritas, totalizando 58 cadernos que contêm sete romances, mais de 60 textos com características de crônicas, fábulas, autobiografia e contos,, mais de 100 poemas, quatro peças de teatro e 12 marchinhas de Carnaval, segundo levantamento feito pela doutoranda Raffaela Fernandez, que atualmente trabalha na pesquisa Narrativas de Carolina Maria de Jesus: Processo de criação de uma poética de resíduos, no Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade de Campinas, a Unicamp.
Carolina entregou muitos escritos a outras pessoas, na esperança de publicá-los. E em suas mudanças, muitos se perderam. Elena Peres conseguiu consultar microfilmes dos seus manuscritos na Biblioteca do Congresso, em Washigton, nos Estados Unidos. Segundo Elena, todo esse material se encontra espalhado, e novos manuscritos podem aparecer.
Bibliografia:
Quarto de Despejo - 1960;
Casa de Alvenaria - 1961;
Pedaços de Fome - 1963;
Provérbios - 1963;
Publicações póstumas:
Diário de Biita - 1982 - publicado na França, assim como Provérbios. E quatro anos depois, no Brasil.
Onde estaes Felicidades? - 2014
Fonte: Wikipedia e Revista Fapesp
Foto 1: Internet
Foto 2: Acervo IMS
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