sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Para um mundo mais inclusivo, biblioteca de Suzano disponibiliza obras em Braille

Acervo está disponível desde o dia
13 de dezembro, data em que se comemora o 
Dia Nacional do Cego/Foto: Gabriel Lima/
Secretaria de Cultura de Suzano
Repare a sua volta, e se a você é possível enxergar, verá que o mundo que o cerca não é pouco inclusivo. Calçadas esburacadas dificultam o percurso de uma cadeira de rodas, a maioria dos estabelecimentos comerciais não possuem rampas de acesso, para citar apenas dois exemplos, já o bastante para concluir que as cidades brasileiras excluem pessoas com algum tipo de limitação, e no caso, aqueles que dependem de cadeiras de rodas para se locomover.

Faltam meios acessíveis a pessoas com algum tipo de limitação, no entanto, há de se considerar – e destacar – toda e qualquer iniciativa que busca a inclusão dessas pessoas nos mais diversos campos. E desde o dia 13 de dezembro, data em que se comemora o Dia Nacional do Cego, estão disponibilizados cerca de 300 exemplares em Braille na Biblioteca Municipal Maria Eliza de Azevedo Cintra, nas dependências do Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi, em Suzano. As obras foram doadas pela Fundação Dorina Nowill para Cegos e parte do material é didático e tem cunho pedagógico.

Para fazer o empréstimo desses livros, ou de qualquer obra do acervo, é necessário comparecer à instituição com documento de identidade com foto e comprovante de residência. Os munícipes podem pegar emprestado até dois livros por vez, com prazo de devolução fixado em quatorze dias. A concessão deve ser feita presencialmente e ocorre de segunda à sexta-feira, das 9h às 16 horas.

As obras disponíveis podem ser consultadas pelos cidadãos por meio do sistema Alexandria, ferramenta através da qual é possível consultar o acervo de qualquer uma das outras quatro bibliotecas públicas de Suzano, localizadas nos Centros Culturais Palmeiras, Colorado e Boa Vista, e no Centro de Artes e Esportes Unificado (CEU) do Jardim Gardênia Azul.

Para o secretário de Cultura e vice-prefeito, Walmir Pinto, o foco principal dessa iniciativa é “incluir e oferecer a possibilidade de leitura dos deficientes visuais. Além disso, promover aos moradores esse tipo de material é abrir caminhos para a interação entre os mais diversos públicos”.

Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi
Rua Benjamim Constant, 682 - Centro  - Suzano

Texto: Elisa Marina 

 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Dezembro, quando alegria e inquietação dão as mãos sob as luzes coloridas de Natal


Adoro completar meus anos de vida no mês de dezembro. Faz quarenta e sete anos que eu sou dezembro. Está certo que, por razões óbvias, eu não tenha a menor ideia  do que seja aniversariar nos meses carnavalescos, muito menos no mês de São João, e que dirá no mês do cachorro louco. E eles, os não-dezembros, por suas vezes, jamais saberão a delícia que é nascer em dezembro. Dezembro é dez, de acordo com o latim, embora seja o décimo segundo mês do calendário gregoriano. Somos os últimos, sim, mas deliciosamente desejados como aquela última batatinha frita no prato, e saboreados como a última colherada na panela de brigadeiro. Quem não espera pela chegada de dezembro bom sujeito não é.

 Dezembro é o mês mais festivo de todos, e o mês do dinheirinho extra na conta bancária para os empregados avalizados pela Consolidação das Leis do Trabalho, que por força da lei, engordam a renda com o décimo terceiro salário, dinheiro que por vezes nem bem é depositado na conta para em seguida pagar o cartão de crédito, ou um mês depois quitar o Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor. 

E embora dezembro seja o mês das luzes que piscam em colorido e das bolas que decoram árvores e fachadas de lojas, é também o mês de sentimentos conflitantes, num dia sol, noutro pancadas de chuva, são dias de tempestades e noites de calmaria. Em algumas pessoas, dezembro representa o fim de um ciclo, o que traz profundas reflexões, e junto delas certa tristeza pela saudade dos que já partiram, em outras, e em mim, uma inquietação que não tem razão de existir porque é fruto de uma notícia sem comprovação cartorária. 

Anos atrás, uma ex-vizinha me fez o seguinte alerta: “pode reparar, as pessoas morrem próximo da data em que aniversariam, pouco antes, ou pouco depois”. Pronto. Bastou para que a informação alarmante e sem embasamento permanecesse até hoje na minha caixa de entrada, e até hoje não deletada. E então, a dezessete dias de assoprar quarenta e oito velinhas, eis então a minha contagem começada já no vizinho novembro: Vinte de novembro! Trinta de novembro! Dois de dezembro! Chega logo dezenove de dezembro! Apresse-se vinte e oito de dezembro! Venha voando quinze de janeiro! 

Até o presente momento, viva (do verbo viver), fugi da lógica, sem saber exatamente quando começa e termina o tal período fúnebre. Hoje, dois de dezembro, o cenário me parece otimista uma vez quem meus exames não apontam para uma morte iminente, contudo, uma hora a vida termina, e como Walt Disney, também um exemplar  nascido em dezembro, animava desenhos inanimados, o não saber quando se vai morrer faz dos sujeitos personagens animados - ainda que desanimados - ante o desfecho da própria história. 

Texto: Elisa Marina

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Para uma conscientização negra que se estenda para além de novembro



Por mais de duas horas, Nei Lopes
destacou o legado de Lima Barreto para
brasileiros de um Brasil que pouca
importância dá, ainda, a sua obra/ Foto: 
Elisa Marina

Novembro, mais precisamente o dia 20, é marcado como o Dia da Consciência Negra, período entendido a que a sociedade reflita e perceba as injustiças raciais pelas quais passam diariamente negros e negras que aqui vivem, e revivem cotidianamente casos de racismo que não param de crescer. Por isso, para além de um dia, ainda é preciso muito mais que um dia, talvez os doze meses do calendário a fim de conscientizar aqueles que não perceberam, ainda, que certos privilégios são sustentados por um racismo institucional e secular.

Para tanto, diversos eventos estão sendo realizados na região do Alto Tietê. A cidade de Suzano conta com uma programação diversificada que vai de palestras à exibição de longas-metragens e documentários durante o mês de novembro.

 Em Mogi das Cruzes, a vida e obra do escritor Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) foi contada por mais de duas horas no Sesc Mogi das Cruzes pelo olhar do compositor escritor, cantor, e estudioso das culturas africanas Nei Lopes. Jornalista e escritor, Lima Barreto nasceu num 13 de maio que sete anos depois viria a ser marcado como data da abolição da escravatura através de uma lei que deixa claro que ser liberto não é necessariamente ser livre.

Lima Barreto sentiu na pele, mais precisamente na mente, os seus aprisionamentos, que não o incapacitavam mas abriam portas para o vício na bebida. O medo de parecer louco o fazia vítima das loucuras de uma sociedade que lhe imputava todo tipo de julgamento, para uma vez capturado pela viatura policial ser deixado, largado e esquecido em manicômios do Rio de Janeiro. 

Dentro ou fora, Lima Barreto produzia, escrevia quanto mais os insanos, os outros, o desafiavam, ou quando até mesmo os intelectuais lhe davam as costas, entra aqui a recusa de Rui Barbosa para ingressar na Academia Brasileira de Letras. Em 1922, é encontrado morto em sua cama, abraçado a uma revista literária, no dia 1º de novembro, nove meses depois daquela moderna semana de arte que ocorrera em solo paulistano.

Cineteatro é um dos espaços de Suzano a servir 
palco para apresentações em comemoração
ao mês da Consciência Negra/ Foto:
Secom


Eventos em Suzano 

17 de novembro - 20h

Noite de Capoeira - mestre Amaro

Local: Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi

Rua Benjamim Constant, 682 - Centro

19 de novembro - 19h

Cine Resistência - documentário

Local: Cineteatro Wilma Bentivegna

Rua Paraná, 70 - Centro - Suzano

20 de novembro - a partir das 10h

Roda de Capoeira

Aula aberta de dança urbana

Apresentações urbanas

Local: Parque Max Feffer

Av. Sen. Roberto Simonsen, 90 - Jardim Imperador

21 de novembro - 19h

Lançamento do livro Rap Cultura e Poesia - autor Felipe Oliveira Campos

Local: Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi

Rua Benjamim Constant, 682 - Centro

23 de novembro - a partir das 14h

A Princesa e o Sapo

Infiltrado na Klan

Local: Cineteatro Wilma Bentivegna

Rua Paraná, 70 - Centro - Suzano

Palestra: Questões sobre o racismo e violência simbólica - 19h30

Local: Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi

Rua Benjamim Constant, 682 - Centro

30 de novembro

Jamaica Abaixo de Zero - 14h

Selma, uma história de liberdade - 19h

Local: Cineteatro Wilma Bentivegna

Rua Paraná, 70 - Centro - Suzano


Por: Elisa Marina

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Tchau, "querido", até nunca mais!

 

Judith decapitando Holofernes (1613) 
Artemisia Gentileschi*
Museu Capodimonte, Nápoles
Seus últimos anos com ele não foram bons, alguns consideravam a relação com um grau de toxidade tamanho que era até difícil entender como ela resistira por tanto tempo lidando com episódios de agressões, abusos psicológicos, alicerçados num insistente desejo sempre presente, como que a delegar a ele uma iniciativa inerente a sua própria responsabilidade: quando ele irá embora? Embora fosse impossível imaginar que ele a deixaria por conta própria, através de um impulso repentino de um adeus. E então, depois de quatro árduos anos, e a partir da decisão de sujeitos empáticos a seus sofrimento, finalmente o divórcio ocorreu, e liberta dele ela está.No entanto, ao contrário de usufruir de sua liberdade - estaria ela sob efeito da Síndrome de Estocolmo em que a vítima cria um laço emocional com seu algoz? - ele continua como presença consistente na mente dela, ora em manhãs de recordação pelo sofrimento vivido na carne, ora nas noites de sono perdidas de olho no smartphone para saber por onde ele anda. Como que presa a um masoquismo enraizado na psique, ela não percebe que deixá-lo ir, esquecê-lo de vez, e mais ainda enterra-lo para sempre nas profundezas da insignificância, lhe trará alívio, paz, e a certeza de que relações saudáveis são possíveis, e um novo amor há de aparecer brevemente. A nossa jovem democracia, assegurada por sessenta milhões de brasileiros naquele histórico 30 de outubro, precisa libertar-se de seu opressor, a saber, Jair Messias Bolsonaro.

King Kong (2005) - direção:
Peter Jackson

Hollywood por vezes nos ensina algumas lições. No filme King Kong, a enorme criatura, exemplar único da sua espécie no planeta, habita a Ilha da Caveira, um lugar longínquo da cidade de Manhattan, distância essa que mantém a segurança da vida dos exemplares humanos. Ao macaco cabe apenas uma reflexão: Se não vierem até mim, não irei até vocês, e está tudo certo. Mas irão, como há décadas temos visto através dos roteiros que o cinema já produziu, com o olhar de diretores ávidos por vender um medo a partir de uma história possível de existir apenas na ficção. 

Voltemos à realidade, mais precisamente no Brasil de 2018 quando tiramos Jair Bolsonaro do seu submundo e o trouxemos para a civilização, nos anos que antecederam aquelas eleições que culminaram na vitória do pior presidente que esse país foi capaz de eleger para estar à frente do poder Executivo. Deputado federal do chamado baixo-clero, Bolsonaro precisava atrair para si a mídia de outro modo que não fosse pelo seu trabalho como parlamentar que, como bem sabemos, foi uma página em branco nos quase trinta anos que por lá esteve. Portanto, lhe restava recorrer a saída mais viável para isso, ou seja, a palavra estruturada nos seus preconceitos. 

Charge de campanha do jornal
Folha de S.Paulo em defesa
da democracia

Do lado de fora da cena política, figuras midiáticas como Jean Wyllys, até então um professor universitário assumidamente homossexual e recém-saído vitorioso de um reality show de maior audiência da televisão brasileira, sem querer acabou por abrir uma trilha por onde Bolsonaro caminhou guiado pelos holofotes de Jean. Não que os seguidores do ex-Big Brother que mais tarde o elegeriam deputado federal, simpatizassem com a tal criatura tosca, muito pelo contrário, na ânsia de exporem os preconceitos de Bolsonaro (contra gays, negros, mulheres) contribuíram para que suas falas fossem ao encontro de seus pares. Sim, caro leitor, cara leitora, aquele seu cunhado, irmão, pai, ou mãe, todos eles com seus monstros adormecidos a espera daquele quem um dia os despertassem do sono profundo, e então do submundo emergiram todos eles. O que se viu a partir daí é público e notório.É necessário e urgente apagar Bolsonaro das nossas redes sociais, muito embora outros exemplares fantasmagóricos estejam por perto com o intuito de nos assombrar. Por outro lado, sabemos o quanto é difícil assistir a uma fala homofóbica, racista, ou ler uma  notícia falsa produzida por ele ou pelo seu entorno, sem se indignar, e por isso dividir com os seus amigos seria um meio de expor essas figuras ao escracho público. Entretanto, no mundo dos algoritmos a lógica é outra, e o bolsonarismo precisa da visibilidade para se perpetuar. Por isso o melhor nesse caso é denunciar a postagem aos órgãos competentes, ou então denunciar nas redes sociais onde a publicação foi divulgada. A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva foi conquistada depois de um longo e árduo caminho, por isso não podemos reviver a mesma tragédia, sob o risco de Bolsonaro ser reeleito em 2026.Temos que abandonar de vez essa relação tóxica de quatro anos que nos deixou marcas profundas. É preciso levar Jair Bolsonaro e seus pares de volta para o submundo e de onde ele jamais deveria ter saído. Não podemos repetir 2018. Que Bolsonaro seja objeto de desejo apenas da justiça brasileira, e a ele resta o nosso mais sincero grito: tchau, querido, até nunca mais!

*Artemísia Gentileschi, pintora barroca, imprimiu em suas obras dores e angústias de sua própria vida. Judith decapintando Holofornes é interpretada a partir do estupro da artista por seu mentor Antonio Massi, aos 18 anos de idade, ainda mais quando se sabe que Artemisia se usou  como modelo para essa representação.

Por Elisa Marina

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Ganhador de três prêmios Jabuti, João Carrascoza é o convidado de hoje no encontro sobre literatura em Suzano

Carrascoza cria tramas com profundidade, e narra
histórias que podem parecer comuns, mas é daí que
sua escrita encontra meios próprios de extrair os 
dramas de suas personagens/Foto: Arquivo Pessoal 



Nesta quinta-feira, o Trajetórias Literárias, evento coordenado pelo escritor Ademiro Alves de Sousa, o Sacolinha, recebe o escritor João Anzanello Carrascoza, autor de contos e romances. Mas antes de ir a Suzano, o escritor concedeu uma entrevista exclusiva para o Labareda Carmim.

Nascido em Cravinhos (SP), Carrascoza publicou os romances Trilogia do Adeus, Aos 7 e aos 40 e Elegia do Irmão, além dos livros de contos Diário das Coincidências, Aquela Água Toda e Tramas de Meninos.

Recebeu, entre outros, três prêmios Jabuti, APCA, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, e da Fundação Biblioteca Nacional. Seu primeiro livro, Hotel Solidão, foi publicado em 1994. Algumas de suas histórias foram traduzidas para inglês, francês, italiano, sueco e espanhol. É publicitário por formação, e atualmente leciona na USP e na ESPM.

Nessa entrevista sobre Tramas de Meninos, Carrascoza elabora a morte que está presente em muitos dos contos e nos ajuda a pensar que essas tramas também podem ser ouvidas como dramas de meninos, que se emaranham na relação conflituosa entre irmãos, como no conto Nuvem, que são também tecidas pelo olhar do filho em Separação ao assistir a repetidas cenas de violência doméstica, ao mesmo tempo em que busca compreender que tipo de amor há naquela relação, entre pai e mãe. É neste fio condutor atemporal que Carrascoza tece historias de pessoas comuns, onde a profundidade desses dramas constitui um bordado de cores, ora suaves, ora densas, mas sempre tramas.

Labareda Carmim – O que o escritor João Carrascoza tirou de si, do menino João, para escrever essas tramas de meninos?

João Carrascoza – A gente sempre tem um menino dentro da gente. E o Tramas de Meninos me deu uma ideia de construir um conjunto de contos, com uma ordenação espelhada, sendo a primeira parte (Primeiros Fios) um conjunto de contos e a segunda (Segundos Fios), outro conjunto de contos, formando outra fiação, outra linhagem de historias, mas com uma correspondência entre o primeiro conto e o último, e assim sucessivamente, para demonstrar os vários meninos: os que ainda são meninos, os homens que se lembram de quando eram meninos, os homens velhos que acessam os meninos que existem neles. E embora pareçam que sejam só tramas de meninos, são tramas de meninas também, pois há várias personagens femininas.

LC – São tramas de meninos, como também de meninos homens quando tomados por suas lembranças. Somos meninos e meninas flertando com um corpo adulto que insiste em apagar a própria infância?

JC – Muitas personagens estão na história para representar o mundo feminino. São as meninas que a gente encontra no caminho. As meninas-irmãs, as meninas-tias, as meninas-amigas... É por esse caminho que eu fui construindo esse livro, para que ele tivesse essas narrativas se intercalando, e ao mesmo tempo se entrelaçando para criar um espectro maior de trama, de desenho, no qual tivessem identidades distintas, tanto de homens quanto de mulheres.

LC – Vidente é um conto que me toca, porque não se trata da morte do outro (ainda que ela esteja ali como um medo sufocante) mas da própria morte. E em muitos dos contos do livro, a morte está de algum modo inscrita, às vezes descrita, ou então citada. Para você, falar de morte, da morte, ou sobre a morte, te causa angústia, ou seria mais do que isso, um alívio a uma angústia e que por isso escrever sobre é deitar num divã imaginário?

JC – Com relação ao conto Vidente, fico contente que você tenha observado e feito uma leitura profunda dele, ele vai dialogar – porque ele é o penúltimo conto da segunda parte – vai fazer um arco, reflexo, com o segundo da primeira parte que é [o conto] Quem?. Não se sabe quem morre num determinado acidente, você deve se lembrar. E também em Vidente, o vidente está procurando entender quem é que vai morrer, como ele sempre soube quem iria. E ele só vai descobrir [alerta de spoiller] que é ele mesmo, como você mesmo pergunta.

Eu sempre tive uma relação com a morte desde menino, observando que no fundo, apesar de ser um corte na existência, um corte definitivo, a vida é muito mais valiosa porque há um fim para ela. Então, a morte só se justifica porque há uma vida. Mas por outro lado, até quando a gente vai morrer, a morte tem que ficar a espera, de joelhos ou não, quieta ou não, mas de qualquer maneira, encarcerada, para que a gente possa realizar a vida, que a vida possa se cumprir plenamente dentro do tempo que ela foi possível realizar-se. Como a morte é o fim da consciência, não há de se sentir dor, nem tristeza, nem perda, nem saudades, quem sentirá serão aqueles que estão. Portanto, há de se preocupar com o que fazer da nossa vida, antes que a morte chegue.

LC – “Como um filho não se faz sem um homem, logo as amigas desaguaram a falar sobre seus maridos (...)”. Sobre essa passagem no conto Presentes, a Ciência concordaria com o narrador, já as feministas provavelmente não, e mais, diriam que um filho também se cria sem maridos. Dito isso, eu te pergunto se a sua escrita dialoga com o feminismo, ou você se sente livre para escrever à margem dessas falas que ressoam hoje na sociedade?

JC – A frase está dentro de um contexto, de que a mulher precisa de um homem, não no sentido de estar com ela para cuidar dos filhos, pois há muitas mulheres que cuidam de seus filhos cujos pais são ausentes. Mas na conjuntura da narrativa, como as amigas estão se encontrando para um chá de bebê, a ideia é de uma relação com o lado do masculino, ou seja, por mais que você possa querer um filho, é preciso ter a parte masculina desse filho, o sêmen do homem.

Na minha literatura você vai encontrar presenças femininas fortes, até porque eu entrei para a literatura como escritor graças às mulheres: minha mãe, minha avó, minhas tias, minhas irmãs, primas, enfim, as mulheres que circulavam muito na minha casa, que contavam muitas histórias entre si, que eu gostava muito de ouvir, que me incentivaram a ler, como também me incentivaram a escrever as histórias que vinham pra mim, então é um mundo feminino no qual eu sou muito grato, e sempre procuro representar [todas] de maneiras distintas: a mulher cuidadosa, a mulher que ama outra mulher... É possível encontrar todas elas em outros textos que venho escrevendo.

 LC – De um modo abrangente, como vê o percurso da literatura no Brasil de 2022? 

JC – A literatura brasileira tem se movido bastante com a grande inclusão de escritores, tanto da prosa quanto da crônica e do romance, e mesmo da poesia, até da não-ficção, do ensaio crítico, dando espaço para muito segmento minoritário, como vemos, por exemplo, a literatura de causas negras, a literatura indígena, enfim, são novas temáticas e de posição de grupos que antes tinham pouco espaço em função de um certo monopólio editorial, monopólio de mercado, monopólio acadêmico e do campo literário. Fico feliz de ver esse movimento de grande abertura, o que amplia a pluralidade e a beleza da literatura feita entre nós.

Texto: Elisa Marina               

Trajetórias Literárias

Quando: Hoje, às 20h

Onde: Cineteatro Wilma Bentivegna

            Rua Paraná, 70 – Jardim Paulista – Suzano

Entrada gratuita

 





quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A música do pianista Ricardo de Deus em conexão com o íntimo de cada um


Ricardo de Deus se apresenta em Suzano com seu
mais recente trabalho, Piano e Sentimento/Foto:
Arquivo Pessoal

 O que é música? Certa vez, diante dessa questão, assim disse o compositor brasileiro Edu Lobo: Música não quer dizer nada, ela quer dizer música. Num primeiro momento, pode até parecer uma resposta simplista para um renomado músico, mas se sairmos da superficialidade da resposta, e nos aprofundarmos numa linha, digamos, filosófica, chegaríamos ao ponto de entender que música não é um estado de ser, mas um estar; portanto, estar em música a partir da existência do próprio sujeito. A música estaria, então, para o homem como o ar o está para que ele, este homem, possa assim existir. Seu coração bate em compasso – lento ou apressado, pouco importa – mas a música está nele, está em mim, está em nós. E em nós, nos enlaça e nos conecta com o nosso íntimo, com ao ponto de nos provocar euforia, prazer e relaxamento, basta, para isso, deixar-se levar por ela, a música.

Na Grécia Antiga, música era dita como mousiké, atividade proveniente das musas, não somente a música instrumental, e sim música e poesia, onde os poemas não eram escritos e recitados, mas cantados. Nesse sentido, fica fácil entender o projeto do músico suzanense Ricardo de Deus, cuja música se conecta com a divindade a partir do seu próprio nome. Piano e Sentimento é um projeto que proporciona relaxamento, tranquilidade, paz, introspecção numa sessão de musicoterapia, que nada mais é do que um método que utiliza a música e o som para estabelecer a comunicação e o vínculo necessário para conquistar objetivos de caráter terapêutico.

Para Ricardo de Deus, pianista com turnês realizadas na Europa e Ásia, o piano é um instrumento versátil, com uma extensão de oitenta e oito notas, que possibilita infinitas formas de serem tocadas, com diversas combinações sonoras e de interpretações. Através dessas características do piano, e com esse potencial de cores e texturas, quando ouvimos uma música tocada por esse instrumento, nos propicia momentos de relaxamento, tranquilidade, paz e introspecção. Não por acaso, Frédéric Chopin (1810-1849), o compositor mais importante para piano do período romântico, é influência no trabalho deste pianista natural da cidade de Suzano.

Sobre o artista

Pianista e compositor, Ricardo de Deus viveu em Cabo Verde por dezoito anos, onde, além de tocar em vários grupos e acompanhar artistas, foi professor no Centro Cultural Brasil-Cabo Verde e na Universidade de Cabo Verde. Por lá, junto a dois músicos angolanos, criou o Ricardo de Deus Trio, que em 2014 foi indicado ao Cabo Verde Music Awards, evento anual que premia os melhores da música em Cabo Verde.

De volta ao Brasil, em 2017, dedica-se à carreira solo, e faz também participações pontuais em diferentes projetos como o concerto da orquestra Brasil Filarmônica Wind Orchestra (2022). Seu primeiro trabalho, Fragmentos (2006), apresenta composições inéditas numa fusão entre a bossa-nova, choro, ritmos africanos, música cabo-verdiana, jazz e música clássica. Vem de Lá, de 2016, também autoral, une instrumental com vocal, e dá espaço para a improvisação, com a participação de músicos brasileiros, cabo-verdianos, e espanhol. Em Piano e Sentimento, de 2020, Ricardo de Deus propõe uma espécie de terapia sonora, com um convite ao ouvinte para entrar em um estado de paz, tranquilidade e relaxamento, em sintonia com a sua ligação à prática do yoga.

Texto: Elisa Marina 

Piano e Sentimento

Quando: 08 de setembro de 2022

Horário: 19h

Local: Anfiteatro Orlando Digênova

Rua Benjamim Constant, 682 – Suzano – SP

Entrada gratuita

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

O artista brasileiro que causou desconforto e emoção na cantora Madonna

Em agosto desse ano, completou-se sessenta anos
da morte da atriz, modelo e cantora Marilyn
Monroe, morta aos 36 anos/Foto: Arquivo 
Pessoal
Envelhecer leva o tempo da própria existência. Em contrapartida, a partir de uma discussão mais filosófica, podemos considerar que o envelhecimento acontece desde o primeiro dia de vida. Já nossos olhos só irão perceber a velhice - no outro e em nós mesmos - através das marcas faciais acumuladas durante os anos. Esse é um processo que, de modo geral e natural, ocorre de forma lenta e gradual, para alívio de todos nós, sujeitos passivos da própria vida. E então, pouco a pouco, passamos a nos acostumar com o resultado da nossa aparência que se dá com o passar dos anos. Aceitar ou não esse processo já é de cada um.

Por essa razão, deparar-se de com a própria imagem com muitos anos a mais para além da idade atual pode causar espanto em qualquer um, principalmente nos vaidosos e apreciadores de procedimentos estéticos que prometem rejuvenescer a aparência com a redução das marcas de expressão. Motivo pelo qual o artista digital Hidreley Leli Dião achou por bem retirar do seu Instagram o resultado obtido a partir de fotos da cantora Anitta, até mesmo para não virar alvo dos fãs da artista, uma vez que seu trabalho consiste em envelhecer digitalmente fotografias.

Michael Jackson faleceu em 2009, aos
50 anos de idade/ Foto: Arquivo Pessoal

Tudo começou seis anos atrás quando Hidreley tinha que criar conteúdo para um site de entretenimento onde publicava seus artigos. Foi então que ele teve a ideia de envelhecer artistas mundialmente conhecidos, - astros e estrelas de Hollywood -, uma vez que sua especialidade era com o Adobe Photoshop, um software de edição de imagens. A primeira delas, Marilyn Monroe, não está viva para nos contar sua avaliação, mas a rainha do pop Madonna a princípio não gostou de ver uma foto sua (e sem filtros) com anos a mais do que os seus atuais sessenta e quatro anos de idade, respondendo a ele, Hidreley, com um emoji nada amistoso. 

No entanto, o que poderia até render-lhe um processo jurídico, acabou por aproximar a estrela deste botucatuense de 33 anos de idade. Hidreley recebeu da própria Madonna um pedido para envelhecer a foto da mãe morta há quase sessenta anos, e que hoje teria 89 anos de idade. “Foi surreal, incrível ter o reconhecimento [do meu trabalho] da Madonna. Me senti lisonjeado, orgulhoso. Sempre irei guardar [isso].”, comenta o comerciante do interior paulista, e que fica a 270 quilômetros da capital.

De um emoji de reprovação pela foto
acima, a um pedido afetuoso, assim
foi o contato entre Madonna e
Hidreley/Foto: Arquivo Pessoal
Hidreley entende que seu trabalho envolve muito mais do que técnica, mas afetos guardados, por isso julga ser gratificante saber da emoção que essas fotografias digitalmente modificadas causam nas pessoas que, até então, só tinham como lembrança uma imagem congelada do parente já falecido. Ele mesmo, por experiência própria, sabe o que isso significa, ao realizar o envelhecimento digital de dois tios falecidos há mais de vinte anos. Além disso, essa é uma técnica que pode ajudar na busca de pessoas desaparecidas, e então o que era apenas arte torna-se uma ferramenta de esperança. Em casos dessa natureza, Hidreley Dião abre uma exceção e executa a arte gratuitamente.

Em sua conta no Instagram é possível conferir todos estes trabalhos. Estão por lá um idoso Renato Russo, um envelhecido Patrick Swayze, e uma majestosa princesa Diana. Além de personagens de desenhos animados transformados em humanos, como a doce Bete de Os Flintstones, e a reconstrução da múmia do rei Tutmés IV, faraó da 18ª Dinastia egípcia. Em breve será possível conferir também e pessoalmente a arte de Hidreley Dião em uma exposição a ser realizada na cidade de Botucatu.

Texto: Elisa Marina

 





segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Conto de Segunda: Virgínia, a loba solitária

Ela vai despertar depois de ter tido o seu pior pesadelo, achando que aquele tinha sido o seu pior pesadelo, embora aquele fosse só o prenúncio do pior pesadelo que estaria por vir.

Ela vai sentar-se na cama. Vai virar de lado, e vai ajustar os dois pés no par de chinelos de dedo que ele havia lhe presenteado dois dias antes. Ela vai então lembrar-se disso ao vê-los marcados em seu corpo. E ela vai odiar-se por não ter jogado todos pela janela.

Ela vai levantar-se. E vai adorar sentir o piso frio do porcelanato que seu corpo aquecera na noite anterior. Ela vai lembrar-se da noite anterior, e na sequência vai se arrepender por não ter dito o não.
Ela vai lembrar do bar, da cadeira vazia que o aguardava, do trânsito, dos produtos para a maquiagem na penteadeira, do armário aberto, do banho demorado, e do sim ao telefone. Ela vai ser tomada de arrependimentos.
Ela vai então caminhar até o armário, tirar de lá o casaco preto de lã extremamente pesado. Ela vai ter dúvidas se o peso nos ombros é do corpo dolorido pela noite de chuvas, lágrimas e tempestades.
Ela vai sair do quarto, passar pela sala, atravessar a cozinha, descer as escadas do quintal, então ela vai abrir o portão.

Ela vai pisar na calçada esburacada, e de dentro dos buracos vai tirar pesadas pedras. Vai colocar três delas em cada um dos bolsos. Ela vai olhar para à esquerda e vai atravessar a avenida, ela vai subir no canteiro, ela vai olhar para a direita e vai atravessar a avenida. Vai pisar no calçadão, dar oito passos e afundar os pés na areia fofa e úmida e branca. Ela vai olhar para trás e ver as marcas dos pés e o desenho do seu passado. Vai ver seus medos. Vai ver seus amores. Vai rir chorando. Vai lembrar-se dos lenços úmidos na cômoda, da calça com a barra por fazer, da conta bancária no vermelho, dos abortos naturais e clandestinos, e do bebê que não acordou depois da mamada. E ela vai chorar. E vai rir da velha da casa ao lado, sabendo que a velha da casa ao lado era uma estúpida velha da casa ao lado. Ela vai parar. E vai entrar na água, e vai ver os pés sumirem. Ela vai continuar andando mesmo que o peso da água e dos anos dificultem o caminhar de seu peso em anos de idade.

Ela vai deixar boiar as folhas dos livros escritos e os que ainda estariam por serem escritos na capa vermelha mal-acabada. Ela vai sentir a água na barriga, nos seios, no pescoço, e no queixo. Ela não vai sentir medo, porque quer seguir adiante com o seu propósito. Ela vai ver a água bem debaixo de seus olhos tapar a boca dos discursos proferidos, dos beijos dados, dos beijos roubados e dos beijos evitados, saborosos beijos imaginados. Ela vai perceber a água chegar ao nariz que cheirou flores e nucas, e aos olhos que lhe mostraram cenários reais, imaginários e hipotéticos, todos eles em suas histórias.

Ela vai ver as ondas. Ela vai mergulhar. E ela vai afundar. Ela vai sentir o corpo tocar o chão do mar. Ela não vai ver mais nada porque seus olhos estarão fechados. Ela vai sentir a respiração cansarem os pulmões. Ela vai querer gritar. Ela vai começar a perder os sentidos. Ela vai dar início à morte de seus personagens. E vai matar suas histórias junto com seus desfechos. Ela vai matar a todos eles. E com eles ela vai morrer como personagem de outros escritos, porque ela vai viver por ter desejado morrer como Virgínia Wolf.

Texto: Elisa Marina

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Noite de estreia do Curta Suzano expõe dificuldades dos atores negros no audiovisual. Exibição dos filmes da mostra segue até sexta-feira

Ao lado do escritor Escobar Franelas,
(à esq.) um dos coordenadores do Curta
Suzano, o ator Adolfo Moura, 
convidado especial no primeiro dia 
da mostra/Foto: Elisa Marina

Racismo, discriminação nos testes de elenco, ausência de um protagonismo negro no audiovisual. Todos esses temas sustentaram a fala do ator gaúcho Adolfo Moura durante sua participação como convidado especial na abertura do 6º Curta Suzano – Mostra de Curtas-metragens do Alto Tietê, na noite da última terça-feira. No entanto, quando questionado do seu posicionamento sobre a escolha de atores negros para personagens de menos destaque no cinema ou na televisão como se a eles coubessem apenas papéis secundários, o ator apresentou um olhar peculiar acerca dessa polêmica. "O problema é quando não se constrói uma historia com seus respectivos conflitos para estes personagens. O empregado tem uma família, tem seus dramas particulares, e por que deixá-lo com um ‘enfeite’, que está ali apenas para servir à família”, enfatizou Adolfo Moura.

O Curta Suzano, em sua 6ª edição, tem se tornado uma referência do audiovisual quando se propõe a dar protagonismo à região do Alto Tietê. “Precisamos produzir para contar a nossa própria história”, com essas palavras, o secretário de Cultura de Suzano, o vice-prefeito Walmir Pinto, sintetizou sua visão da importância que o Curta Suzano representa para as doze cidades que compõem a região. 

Do cinturão verde de Mogi das Cruzes, passando pela Fonte Áurea de Poá, e chegando à Igreja do Baruel em Suzano, o Alto Tietê representa uma população de aproximadamente 2.900.000 habitantes. E que quando volta seu olhar para si, é capaz de produzir todos os anos centenas de filmes competitivos, o que pode ser conferido nos 41 filmes selecionados para a mostra, incluindo aí também curtas-metragens de outros estados e que concorrem na categoria Panorama Brasil. 

As exibições desses curtas começaram ontem, e se estenderão até a próxima sexta-feira. No sábado, data da premiação, estão programados a realização de uma oficina de produção audiovisual, e um bate-papo com o ator Alexandre Rodrigues, o Buscapé do filme Cidade de Deus, e a cineasta Viviane Ferreira, que dirigiu o Comitê Brasileiro de Escolha do Oscar em 2021.

Acompanhe a programação completa em: www.curtasuzano.com.br

Estatuetas criadas por Koral
Alvarenga foram produzidas
com madeira e papelão/Foto:
Divulgação
Madeira e papelão compõem as estatuetas da premiação

Partindo da imagem de um corpo humano sem gênero definido, a artista da tecnologia Koral Alvarenga se apropriou de seu estilo, que se conecta entre o digital e o físico, para criar as estatuetas da premiação do Curta Suzano.

“Desenvolvi a modelagem 3D e depois usei uma técnica de fatiamento na qual eu poderia usar uma máquina de corte a laser para cortar materiais de forma igual e seriada. E depois fui para uma pesquisa de materiais que podiam ser utilizados nessa máquina e descobri o papelão. Após alguns testes, percebi que precisaria também usar a madeira para dar à obra resistência e durabilidade”, explica Koral, que adequou a produção das estatuetas à proposta dos organizadores da mostra no que tange à confecção das esculturas da premiação, que é a utilização de materiais recicláveis.

 “Eu entrei em conta com empresas de madeira, e com esse material eu criei a estrutura do trabalho, mesclando a madeira reaproveitada e o papelão de caixas de supermercado. Depois, toda a parte de montagem é feita manualmente assim como a pintura. O nome desse trabalho é Identidades Neo Urbanas 5.0”, finaliza Koral.

Texto: Elisa Marina


sexta-feira, 9 de setembro de 2022

6ª edição do Curta Suzano acontece na próxima semana com a presença do ator Adolfo Moura

No papel de Cartola, o ator Adolfo Moura dividiu o palco
com Gero Camilo, Nilcéia Vicente e Victor Mendes na 
peça Razão Social(2017)/Foto: Divulgação

De 13 a 17 de setembro acontece a 6ª edição do Curta Suzano – Mostra de Curtas-metragens do Alto Tietê, só que dessa vez de modo presencial, diferente do ocorrido nas duas últimas edições apresentadas de modo virtual em razão da pandemia de Covid-19. “Para nós, a sexta edição é como se fosse a primeira, e isso nos provoca uma enorme ansiedade”, é como define Escobar Franelas um dos coordenadores da mostra.

Na primeira noite, dia 13, o ator Adolfo Moura é o artista convidado para bater um papo com o público presente, um ator negro cuja presença vai ao encontro da razão de ser do próprio Curta Suzano, que é dar visibilidade ao trabalho de pessoas pretas, indígenas, às mulheres, como também pessoas LGBTQIAP+. “Nosso diferencial é apresentar outra faceta do cinema, onde essas pessoas têm vez para dar voz às suas produções”. Não por acaso, é uma mulher quem assina a criação das estatuetas da premiação, no caso, a artista multimídia Koral Alvarenga. “Buscamos por artistas que imprimam nessas obras uma mensagem que esteja dentro da nossa procura pela inclusão. Os troféus, criados com exclusividade para o Curta Suzano, obedecem às nossas premissas: serem confeccionados com material sustentável, e que estas obras tragam algum tipo de referência sobre o Alto Tietê, seja através de uma marca simbólica, mitológica ou estética”. Escobar conta que Koral foi além, “ela nos apresentou uma proposta totalmente multimídia, com uma produção feita toda de forma digital e impressa em 3D, o que adequou-se ao nosso orçamento, sem desvalorizar o trabalho dela”.

Se para os organizadores do Curta Suzano realizar essa edição tem causado certo frisson, é possível supor o quanto que diretores, atores, roteiristas, atrizes, produtores, estejam muito mais ansiosos para mostrar ao público as suas produções.

Texto: Elisa Marina

                                                                      

6º Curta Suzano – Mostra de Curtas-metragens do Alto Tietê

De 13 a 17 de setembro de 2022 

Evento gratuito

Programação

13/9 – Abertura – 19h

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano

Convidado especial: ator Adolfo Moura

Música: Dom Vinera (participação de Paulo Miranda)

 

14/9 – 10h

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano

 

SESSÃO SANTA ISABEL - Classificação Livre

 Lençóis - Fernando Marques (Recife-PE) 7´ - L

Através dos sentidos - Gilson Nascimento (Rio Janeiro-RJ) 15´ - L

Yabá - Rodrigo Sena (Natal-RN) 12´ -  L

Meu nome é Maalum - Luísa Copetti (Rio Janeiro-RJ) 8´ - L

TOTAL: 45´          

                                                          

Cineteatro Wilma Bentivegna – 14h

R. Paraná, 70, centro de Suzano

 

SESSÃO MOGI DAS CRUZES - Classificação Livre

 Muros da vida - Zoran Djordjevic (São José Campos-SP) 15´ - L

Penélope - Luciana Jacob (Piracicaba-SP) 15´ - L

Duas - Ana Cavazzana (Curitiba-PR) 20´ - L

TOTAL: 52´      

 

Cineteatro Wilma Bentivegna – 17h

R. Paraná, 70, centro de Suzano

 

SESSÃO ARUJÁ - Classificação Livre

 A rua - Marcos Farias (Suzano-SP) 8´- L

Durante o banho - Gabriel Ferreira (Guarulhos-SP) 10´- L

Escrevendo o mundo - Daniel Neves (Guarulhos-SP) 25´- L

Outdoor - Rafael dos Anjos (Guarulhos-SP) 5´- L

Silenci(AR) - Felipe Lima (Suzano-SP) 7´- L

TOTAL: 58´    

 

Cineteatro Wilma Bentivegna – 19h30

R. Paraná, 70, centro de Suzano)

 

SESSÃO SANTA BRANCA - Classificação indicativa 12 anos

 Cinderela do Bom Fim - Diego Muller (Lajeado-RS) 19´- 10 anos

Ensino fundamental - Lucas Scupino (São Paulo-SP) 13´- 10 anos

Guiné - Danilo Cica e Sheila dos Anjos (São Paulo-SP) 13´ -  10 anos

O braço dela - Eduardo Chaves (Niterói-RJ) 14´ - 10 anos

Total: 60´            

 

15/9

Centro Cultural. Francisco Carlos Moriconi – 10h

R. Benjamin Constant, 682, centro de Suzano

 

SESSÃO SALESÓPOLIS - Classificação Livre

 Depois quando - Johnny Massaro (R. Janeiro-RJ) 14´ - L

Maia - Renato Prado (Curitiba-PR) 16´ - L

Ana Rúbia - Diego Baraldi e Íris Alves Lacerda (Rondonópolis-MS) 18´- L

TOTAL: 50´                                                  

 

Centro Cultural Francisco Carlos Moriconi

R. Benjamin Constant, 682, centro de Suzano - 14h

 

SESSÃO ITAQUAQUECETUBA - Classificação Livre

Lina - Melise Fremiot (Nova Iguaçu-RJ) 25´ - L

Madá - San Marcelo (Bragança-PA) 22´ - L

TOTAL: 50´

 

Centro Cultural Francisco Carlos Moriconi

R. Benjamin Constant, 682, centro de Suzano - 17h

 

SESSÃO FERRAZ DE VASCONCELOS - Classificação Livre

 Reflexo - Samuca Bovo (S. Paulo-SP) 20´ - L

Juízo, menino… - Diego dos Anjos (Rio de Janeiro-RJ) 25´ - L

TOTAL: 48´

 

Centro Cultural Francisco Carlos Moriconi

R. Benjamin Constant, 682, centro de Suzano - 19:30h

 

SESSÃO GUARAREMA - Classificação 14 anos

 E daí? - Douglas Cordeiro (Suzano-SP) 7´- L

Inhuman - Kadu Sasso (Suzano-SP) 3´- L

O desconhecido - Allan Gonçalves (Mogi das Cruzes-SP) 7´- L

O navio do universo - Renato Queiroz e Daniel Neves (Guarulhos-SP) 22´- L

Vazão - Michelle Brito e Guillermo Alves (Ferraz de Vasconcelos-SP) 18´ - 14 anos

TOTAL: 60´

 

16/9

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano - 10h

 

SESSÃO POÁ - Classificação Livre

A grande luta - Júlio Sales (Belo Horizonte-MG) 25´- L

Veneno - Kauan Oliveira (Vitória da Conquista-BA) 22´ - L

TOTAL: 50´

                      

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano - 14h

 

SESSÃO GUARULHOS - Classificação Livre

 Quando eu soltar a minha voz - Guilherme Telles (Rio de Janeiro-RJ) 15´ - L

Entre muros - Gleison Mota (Feira de Santana-BA) 15´- L

Da janela vejo o mundo - Ana Catarina Lugarini (Curitiba-PR) 15´- L

TOTAL: 48´                                         

 

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano - 17h

 

SESSÃO BIRITIBA MIRIM - Classificação Livre

 Aviãozinho - Suéllen Santos (Suzano-SP) 10´- L

Perdidos em Casa - Nicolás Ignacio (Suzano-SP) 15´- L

Ponto e Vírgula - Carol Dantas (Guarulhos-SP) 10´- L

Reticências - Gael Teles (Guarulhos-SP) 14´- L

Um artista da fome - Moisés Pantolfi (Guarulhos-SP) 5´- L

TOTAL: 56´                                        

 

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano - 19:30h

 

SESSÃO SUZANO - Classificação indicativa - 16 anos

 Alexandra - Luiz Alberto Cassol (Porto Alegre-RS) 16´- 12 anos

Entreolhares - Ivan Willig (Pedra Azul-ES) 20´ - 16 anos

Eu te amo é no sol - Yasmim Guimarães (Belo Horizonte-MG) 19´ - 16 anos

Total: 57´        

 

17/9

10h - Oficina: Produção Executiva para Audiovisual

Com Lico Cardoso, roteirista, montador e produtor audiovisual

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano

                                                          

15h - Oficina: Editais e Captação de Recursos para Audiovisual

Com Binho Perinotto, poeta, pedagogo (UNESP), consultor e gestor cultural

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano

 

17h - Bate papo com Alexandre Rodrigues, ator

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano - 18h

                                   

18h - Aula Magna com Viviane Ferreira, atriz, diretora e roteirista, presidente da APAN (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro) e do Conselho Brasileiro de Seleção do Oscar 2021

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano

 

19h - Entrega dos prêmios

Cineteatro Wilma Bentivegna

R. Paraná, 70, centro de Suzano