sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Dezembro, quando alegria e inquietação dão as mãos sob as luzes coloridas de Natal


Adoro completar meus anos de vida no mês de dezembro. Faz quarenta e sete anos que eu sou dezembro. Está certo que, por razões óbvias, eu não tenha a menor ideia  do que seja aniversariar nos meses carnavalescos, muito menos no mês de São João, e que dirá no mês do cachorro louco. E eles, os não-dezembros, por suas vezes, jamais saberão a delícia que é nascer em dezembro. Dezembro é dez, de acordo com o latim, embora seja o décimo segundo mês do calendário gregoriano. Somos os últimos, sim, mas deliciosamente desejados como aquela última batatinha frita no prato, e saboreados como a última colherada na panela de brigadeiro. Quem não espera pela chegada de dezembro bom sujeito não é.

 Dezembro é o mês mais festivo de todos, e o mês do dinheirinho extra na conta bancária para os empregados avalizados pela Consolidação das Leis do Trabalho, que por força da lei, engordam a renda com o décimo terceiro salário, dinheiro que por vezes nem bem é depositado na conta para em seguida pagar o cartão de crédito, ou um mês depois quitar o Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor. 

E embora dezembro seja o mês das luzes que piscam em colorido e das bolas que decoram árvores e fachadas de lojas, é também o mês de sentimentos conflitantes, num dia sol, noutro pancadas de chuva, são dias de tempestades e noites de calmaria. Em algumas pessoas, dezembro representa o fim de um ciclo, o que traz profundas reflexões, e junto delas certa tristeza pela saudade dos que já partiram, em outras, e em mim, uma inquietação que não tem razão de existir porque é fruto de uma notícia sem comprovação cartorária. 

Anos atrás, uma ex-vizinha me fez o seguinte alerta: “pode reparar, as pessoas morrem próximo da data em que aniversariam, pouco antes, ou pouco depois”. Pronto. Bastou para que a informação alarmante e sem embasamento permanecesse até hoje na minha caixa de entrada, e até hoje não deletada. E então, a dezessete dias de assoprar quarenta e oito velinhas, eis então a minha contagem começada já no vizinho novembro: Vinte de novembro! Trinta de novembro! Dois de dezembro! Chega logo dezenove de dezembro! Apresse-se vinte e oito de dezembro! Venha voando quinze de janeiro! 

Até o presente momento, viva (do verbo viver), fugi da lógica, sem saber exatamente quando começa e termina o tal período fúnebre. Hoje, dois de dezembro, o cenário me parece otimista uma vez quem meus exames não apontam para uma morte iminente, contudo, uma hora a vida termina, e como Walt Disney, também um exemplar  nascido em dezembro, animava desenhos inanimados, o não saber quando se vai morrer faz dos sujeitos personagens animados - ainda que desanimados - ante o desfecho da própria história. 

Texto: Elisa Marina

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