Judith decapitando Holofernes (1613) Artemisia Gentileschi* Museu Capodimonte, Nápoles |
King Kong (2005) - direção: Peter Jackson |
Hollywood por vezes nos ensina algumas lições. No filme King Kong, a enorme criatura, exemplar único da sua espécie no planeta, habita a Ilha da Caveira, um lugar longínquo da cidade de Manhattan, distância essa que mantém a segurança da vida dos exemplares humanos. Ao macaco cabe apenas uma reflexão: Se não vierem até mim, não irei até vocês, e está tudo certo. Mas irão, como há décadas temos visto através dos roteiros que o cinema já produziu, com o olhar de diretores ávidos por vender um medo a partir de uma história possível de existir apenas na ficção.
Voltemos à realidade, mais precisamente no Brasil de 2018 quando tiramos Jair Bolsonaro do seu submundo e o trouxemos para a civilização, nos anos que antecederam aquelas eleições que culminaram na vitória do pior presidente que esse país foi capaz de eleger para estar à frente do poder Executivo. Deputado federal do chamado baixo-clero, Bolsonaro precisava atrair para si a mídia de outro modo que não fosse pelo seu trabalho como parlamentar que, como bem sabemos, foi uma página em branco nos quase trinta anos que por lá esteve. Portanto, lhe restava recorrer a saída mais viável para isso, ou seja, a palavra estruturada nos seus preconceitos.
Charge de campanha do jornal Folha de S.Paulo em defesa da democracia |
Do lado de fora da cena política, figuras midiáticas como Jean Wyllys, até então um professor universitário assumidamente homossexual e recém-saído vitorioso de um reality show de maior audiência da televisão brasileira, sem querer acabou por abrir uma trilha por onde Bolsonaro caminhou guiado pelos holofotes de Jean. Não que os seguidores do ex-Big Brother que mais tarde o elegeriam deputado federal, simpatizassem com a tal criatura tosca, muito pelo contrário, na ânsia de exporem os preconceitos de Bolsonaro (contra gays, negros, mulheres) contribuíram para que suas falas fossem ao encontro de seus pares. Sim, caro leitor, cara leitora, aquele seu cunhado, irmão, pai, ou mãe, todos eles com seus monstros adormecidos a espera daquele quem um dia os despertassem do sono profundo, e então do submundo emergiram todos eles. O que se viu a partir daí é público e notório.É necessário e urgente apagar Bolsonaro das nossas redes sociais, muito embora outros exemplares fantasmagóricos estejam por perto com o intuito de nos assombrar. Por outro lado, sabemos o quanto é difícil assistir a uma fala homofóbica, racista, ou ler uma notícia falsa produzida por ele ou pelo seu entorno, sem se indignar, e por isso dividir com os seus amigos seria um meio de expor essas figuras ao escracho público. Entretanto, no mundo dos algoritmos a lógica é outra, e o bolsonarismo precisa da visibilidade para se perpetuar. Por isso o melhor nesse caso é denunciar a postagem aos órgãos competentes, ou então denunciar nas redes sociais onde a publicação foi divulgada. A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva foi conquistada depois de um longo e árduo caminho, por isso não podemos reviver a mesma tragédia, sob o risco de Bolsonaro ser reeleito em 2026.Temos que abandonar de vez essa relação tóxica de quatro anos que nos deixou marcas profundas. É preciso levar Jair Bolsonaro e seus pares de volta para o submundo e de onde ele jamais deveria ter saído. Não podemos repetir 2018. Que Bolsonaro seja objeto de desejo apenas da justiça brasileira, e a ele resta o nosso mais sincero grito: tchau, querido, até nunca mais!
*Artemísia Gentileschi, pintora barroca, imprimiu em suas obras dores e angústias de sua própria vida. Judith decapintando Holofornes é interpretada a partir do estupro da artista por seu mentor Antonio Massi, aos 18 anos de idade, ainda mais quando se sabe que Artemisia se usou como modelo para essa representação.
Por Elisa Marina
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