sábado, 9 de maio de 2015

Quando a cor branca é usada para discriminar.

De fácil identificação entre a família da criança, a babá sempre usa branco
Em 2014, o Governo do Estado do Rio de Janeiro sancionou uma lei que proíbe a obrigatoriedade do uso de uniformes por babás em clubes, depois de pedido feito pela ONG Educafro ao Ministério Público daquele Estado. Na época em que o pedido foi feito, um ano antes da sanção da lei, quatro clubes eram acusados de exigir o uso de uniformes. Quem descumprir a lei, pagará multa de R$ 2,4 mil.

Em um desses clubes, o Caiçaras, uma babá fora impedida de entrar no clube por não estar com roupas brancas. Para poder ter acesso ao local, precisou comprar com urgência uma bermuda branca. Outras babás acusaram os clubes Jockey, Paissandu e Piraquê. Tais acusações serviram de base para a ação. Na ocasião, uma das babás disse que o uso da roupa branca constrange e evidencia a separação entre empregadas de patroas.

Para o frei Davi dos Santos, da Educafro, a medida tem a intenção de registrar para os frequentadores a condição social das babás. Para ele, alguns vícios da época da escravidão ainda perpassam nas atitudes da sociedade atual. Assim como nos elevadores dos prédios, que separam o social do de serviço. E de acordo com o advogado Augusto Werneck, o uso obrigatório de uniforme da cor branca ofende o Estatuto da Igualdade Racial, além de ferir o princípio da igualdade e da não discriminação presentes na Constituição Federal.


Para algumas crianças, elas não tem nomes, são apenas babás
Para Emília Jomanilis, assessora do Programa Direitos das Mulheres da ActionAid Brasil, a prática remete aos tempos das mucamas da cultura colonial. O racismo não foi superado. Visão semelhante tem Eleutéria Amora da Silva, coordenadora-geral da ONG Casa da Mulher Trabalhadora. Um uniforme, segundo diz, é um atributo que diz quem eu sou, onde eu moro, qual a minha posição na sociedade. Um uniforme de diretor de um clube, gera status. Mas um uniforme de babá aponta uma condição de subordinação.

Os tais clubes foram punidos, mas a prática continua em outros locais. Muito comum em shoppings, supermercados e parques a presença da funcionária uniformizada junto à família da criança. Na prática e pela lógica, uma roupa branca é de longe a cor ideal para se usar quando o assunto é cuidar de uma criança. Crianças brincam, crianças se sujam, se machucam; logo querem colos. 

O fato é que, se não houver um forte movimento das próprias babás, as mesmas dependerão de ações de entidades que as representam para banir de vez com esse hábito retrógrado e discriminatório.

Fotos: Internet

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