quinta-feira, 17 de setembro de 2015

QUINTA FEMININA: a solitária e incompreendida Virgínia Woolf

"Imagine acordar e descobrir que se
é uma fraude. Esse horror era parte
da minha loucura"
     "Uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu se ela quiser escrever ficção".
     Virgínia Woolf, nascida em Londres no ano de 1882, cresceu em meio a elite intelectual e artística da época. Seu pai era historiador, escritor, ensaísta e biógrafo, e realizava saraus na residência da família, onde corriqueiramente frequentavam, Thomas Hardy, Henry James,  Alfred Tennyson e Edward Burne-Jones. De família numerosa, tinha três irmãs, uma meia-irmã, do primeiro casamento de seu pai, além de outros três, do primeiro casamento da mãe. Dois destes filhos de sua mãe, segundo psicanalistas e biógrafos a abusaram ou, pelo menos, tocaram-na de forma um tanto imoral, o que poderia ter causado a doença maníaco-depressiva, hoje conhecida como transtorno bipolar. Além da permanente frigidez sexual.

     Outros pesquisadores, no entanto, trabalham com a predisposição genética de sua família. O pai de Virgínia, também era conhecido por sofrer de casos de autodúvida  e sintomas de estresse, expressados em persistentes dores de cabeça, insônia, irritação e ansiedade, reclamações parecidas com as posteriores de sua filha. Teve seu primeiro colapso mental aos 13 anos de idade, com a morte da mãe. Aos 16 anos, apaixonou-se por uma mulher. Nada de sexo, puro amor e afeto.

     Virgínia Stephen - sobrenome do pai - não frequentou escola; foi educada por professores particulares e através de aulas com seu pai. Tomou gosto pela arte literária por conta da vasta biblioteca particular de Leslie Stephen e pelo trabalho de editor do Dictionary of National Biografy, também de seu pai. Em 1904, Virgínia conheceu o amigo de um de seus irmãos, seu futuro marido Leonard Woolf, estudante de Direito.

     Começou então a escrever os primeiros ensaios, publicando alguns destes nos suplementos femininos do jornal The Guardian. Em fevereiro de 1922, com a morte do pai, teve sua segunda crise mental, do qual não se recuperaria antes do final daquele ano. Tentou se matar, ao jogar-se de uma janela, mas a baixa altura do local apenas lhe causou alguns ferimentos. A alma estava profundamente ferida e sua saúde mental abalada, a ponto de dizer que ouvia pássaros cantando em grego. Por conta da insistência da família e de amigos que exigiam dela o matrimônio, Virgínia casou-se com Leonard em 1912. O casamento foi um grande "negócio" para ela, aumentando o seu equilíbrio emocional e a sua segurança enquanto escritora.

Leonard adorava a capacidade intelectual de
Virgínia e não se preocupava com a
frigidez sexual dela
     Com o romance A Viagem, Virgínia Woolf fez sua estreia na literatura, e trilhou, a partir daí uma carreira como escritora com uma série de obras notáveis, influenciada em partes pelo grupo Bloomsbury, círculo de intelectuais que, após a Primeira Guerra, se posicionaria contra tradições literárias, políticas e sociais da Era Vitoriana (período do reinado da Rainha Vitória). A pequena burguesia inglesa era contra o que queriam lutar no campo da literatura, da arte e da sexualidade. Virgínia era grata por poder participar do grupo - do qual ela e uma de suas irmãs eram as únicas mulheres.

     Sua obra é classificada como modernista, e suas reflexões sobre a arte literária - da liberdade de criação ao prazer pela leitura - baseadas em obras primas de Dostoievski, Joyce, Tolstoi, Tchekov, entre outros clássicos, foram reunidos em dois volumes publicados pela sua editora, a Hogarth Press sob o título de The Common Reader (O Leitor Comum), homenagem de Virgínia Wolf àquele que, livre de qualquer tipo de obrigação, lê para o seu próprio desfrute pessoal. Com isso, é considerada uma das maiores romancistas do século 20. E uma grande inovadora do idioma inglês. Em seus trabalhos, experimentou a psicologia íntima.

     Virgínia Woolf foi chamada por alguns de antissemita, apesar de um casamento feliz com seu marido judeu. A razão por esse julgamento ocorreu pelas inúmeras vezes escrever sobre personagens judeus sob arquétipos e generalizações estereotipados. É provável que o crescente antissemitismo da época a influenciou. Avessa ao fascismo, ela e seu marido, sem saber, figuraram a lista de Hitler.

     Com o estopim da Segunda Guerra, a destruição de sua casa em Londres e a fria recepção da crítica à sua biografia do amigo Roger Fry, Woolf foi condicionada ao impedimento de sua escrita e caiu em uma depressão semelhante às que sofreu na juventude. No dia 28 de março de 1941, aos 59 anos de idade, Virgínia colocou seu casaco, encheu os bolsos com pedras, caminhou em direção ao Rio Ouse, perto de sua casa e se afogou. Seu corpo foi encontrado somente três semanas mais tarde, por um grupo de crianças. Deixou um bilhete de despedida ao marido, onde reconheceu a sua fraqueza em lidar com a sua confusão mental.

     Virgínia teve um teto todo seu, mas deixou que a sua vida fosse a sua ficção.
    

    

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