quinta-feira, 10 de setembro de 2015

QUINTA FEMININA: Não provoque, é rosa-choque. É Elsa Schiaparelli

Artista inspirou-se no cubismo e
no surrealismo, e criou um
estilo próprio
    Nascida em Roma, em 1890, Elsa Schiaparelli foi um dos ícones da moda no século 20. Excêntrica, buscava o efeito teatral  através das cores vivas, não muito usadas em sua época. E conseguiu criar um tom de rosa tão forte, que chegava a ser dramático, que o batizou de shocking, o seu rosa-choque. A cor foi usada por ela em muitas criações. Shocking, aliás, foi o nome dado ao seu perfume mais conhecido, lançado em 1938. O frasco tinha o formato do corpo da famosa atriz Mae West

     Sobrinha do famoso astrônomo que descobriu os canais do planeta Marte, Giovanni Schiaparelli, sua família possuía uma boa situação financeira, o que permitiu que ela fosse estudar na Suíça e em Londres, e onde conheceu aquele que vinha a ser seu marido, o filósofo e jogador, Count Wilhelm de Wendt de Kerlor, em 1913. O casal mudou-se para Nova York, mas o casamento não durou muito tempo, e Schiaparelli com uma filha pequena para cuidar, não conseguiu sobreviver muito tempo na América, voltando para a França, em 1922. Nessa época, já desenhava e começava a vender seus primeiros tricôs. Abriu sua primeira butique em 1927 e em 1929 apresentou sua primeira coleção, que foi um sucesso.
O rosa-choque sempre presente nas criações
     Elsa acreditava que a moda não poderia estar desassociada das artes plásticas contemporâneas, principalmente a pintura, e sempre esteve ligada aos artistas da época, como seus amigos Marcel Duchamp, Picabia, Man Ray, Stieglitz, Jean Cocteau, Christian Bérard e Salvador Dalí. Com Dalí, Schiaparelli chegou a trabalhar muitas vezes, o que resultou em várias criações. Como o chapéu em forma de sapato, o tailleur-escrivaninha com bolsos em formato de gaveta, o vestido de seda pintado com moscas, entre outros. E o Roi-Soleil, um perfume cujo frasco foi desenhado por Salvador Dalí. Aliás, foi no surrealismo e no cubismo que ela encontrou sua fonte de inspiração, o que chocava os mais conservadores.

     Diante de todo esse sucesso, Elsa se tornou a maior rival da famosa estilista Coco Chanel; ainda que seus estilos fossem totalmente opostos. Chanel criava roupas funcionais para a mulher moderna; Schiap fazia modelos surrealistas, exóticos.

Estilo
O chapéu-sapato, criado com o amigo, o
pintor Salvador Dalí

     Todas as coleções lançadas por ela se inspiravam em fantasias e partiam de temas dominantes. Inspirou-se no circo quando lançou uma coleção com cavalos, elefantes ou acrobatas no trapézio, bordados em muitas peças. Sempre utilizando babados e cores fortes, Elsa criou a coleção de astrologia, com destaque para uma luxuosa capa com enormes signos do zodíaco bordados em ouro. 

     Elsa inovou nos materiais utilizados em suas roupas, como o zíper, o crepe de seda e o celofane. Suas roupas surpreendiam não só pela elegância e acabamento perfeito, mas pelos motivos inusitados que escolhia: pautas musicais bordadas em vestidos de baile, cuja fivela do cinto era uma caixa de músicas, notícias de jornal impressas em lenços e echarpes. Foi pioneira na introdução da música e da arte nos desfiles.

O pós-guerra

     De 1939 a 1945, Elsa preferiu fechar a sua maison, para colaborar com os esforços antinazistas nos Estados Unidos. Quando guerra chegou ao fim, ela retornou à Paris, em 1945. A maison sobrevivera aos anos de conflito e logo foi reaberta. Nessa época, passaram pelo seu ateliê alguns nomes, hoje famosos, como Hubert Givenchy e Pierre Cardin, que atuaram como assistentes.

     Apesar de todos os esforços, o tempo não foi seu amigo. Com dificuldades financeiras e pessoais, ela acabou fechando a sua maison em 1954. A moda pós-guerra era outra. E com a chegada de nomes como Dior, não havia mais espaço para as suas criações mirabolantes. Lançou um livro de memórias intitulado Schocking life, novamente a cor intensa que acompanhou sua ousadia, excentricidade e o impacto que desejava causar. Elsa Schiaparelli morreu em 1973, aos 83 anos de idade.

Fonte: Almanaque Folha

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