quinta-feira, 3 de setembro de 2015

QUINTA FEMININA: vida e arte de Tarsila do Amaral

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     Nascida em 1º de setembro de 1886, na cidade paulista de Capivari, a pintora e desenhista Tarsila do Amaral conseguiu transformar sua obra, o quadro Abaporu, de 1928, no precursor do movimento antropofágico nas artes plásticas. Ao lado de Anita Malfatti, foi uma das figuras centrais da pintura e da primeira fase do movimento modernista no Brasil.

     Filha de ricos fazendeiros, Tarsila estudou em colégios de freiras, mas completou os estudos em Barcelona, na Espanha, onde fez seu primeiro trabalho como pintora, a tela Sagrado Coração de Jesus. De volta ao Brasil, em 1906, casou-se com seu noivo, o médico André Teixeira Pinto, mas separou-se logo que sua filha nasceu, no mesmo ano de seu casamento. As diferenças culturais entre eles eram enormes. Conservador, o marido se opunha ao desenvolvimento artístico de Tarsila. A anulação do casamento, aconteceu anos depois, graças ao empenho de seu pai.


Abaporu, em tupi-guarani significa "homem
que come gente". A tela foi pintada em 1928
A carreira

     Em 1920, aprendeu a pintar com dois mestres da arte - o pintor Pedro Alexandrino Borges e o alemão George Fischer Elpons, criador de uma das primeiras escolas de pintura na capital. Viajou para Paris e durante dois anos frequentou a Academia Julian, onde desenhou nus e modelos vivos. Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila só aderiu às ideias modernistas quando voltou ao Brasil, em 1922, quando fora apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mario de Andrade e Menotti Del Picchia, formando assim o Grupo dos Cinco.

     Em janeiro de 1923, Tarsila se uniu a Oswald de Andrade e, juntos, viajaram por Portugal e Espanha. De volta à Paris, estudou com artistas cubistas, frequentou a Academia de Lhote, conheceu Pablo Picasso e tornou-se amiga do pintor Fernand Léger.

     Com a Grande Depressão, de 1929, Tarsila e sua família de fazendeiros foram afetados pela crise do café, o que fez com que perdesse sua fazenda e quase toda sua fortuna. Nesse mesmo ano, Oswald de Andrade a deixou por estar apaixonado pela revolucionária Patrícia Galvão, ou simplesmente Pagú. Em 1930, foi trabalhar como conservadora na Pinacoteca do Estado de São Paulo, organizando a coleção do primeiro museu de arte paulista. 

     Sem dinheiro e sendo obrigada a vender alguns de seus quadros, em 1931, ao lado de seu novo marido, o médico psiquiatra Osório César, viajou para a antiga União Soviética, e por lá, construiu sua concepção política, mais voltada à temática social preponderante no pensamento de esquerda.

     Novamente em Paris, aproximou-se mais da classe operária quando foi trabalhar como pintora de paredes em construções. A partir do quadro Operários, ficou mais evidente a fase social da artista. Em 1933, conheceu um escritor, vinte anos mais jovem que ela. Da amizade baseada no amor de ambos pela arte, nasceu um envolvimento afetivo. Após uma nova separação, casou-se com o escritor. Com ele, viveu até os anos de 1950. De volta ao Brasil, Tarsila foi considerada suspeita e presa sob acusação de subversão, por conta de participações em reuniões políticas de esquerda.

     Em 1965, já separada do escritor, submeteu-se a uma cirurgia devido a fortes dores que sentia na coluna e um erro médico a deixou paraplégica. No ano seguinte, perdeu sua única filha. Desesperada e deprimida, encontrou na religião, mais precisamente no espiritismo, um consolo para a vida. O que arrecadou com a venda de suas obras, doou a uma instituição de caridade administrada pelo amigo Chico Xavier. Tarsila do Amaral, a artista símbolo do Modernismo, faleceu no dia 17 de janeiro de 1973, devido a depressão. Foi enterrada no Cemitério da Consolação, de vestido branco, conforme seu desejo.

O canibal

     A tela Abaporu, de 1928, Tarsila ofereceu ao marido, o escritor Oswald de Andrade, que viu nos elementos que constam da obra, especialmente a inusitada figura, a ideia de criação do Movimento Antropofágico. Consistia na deglutição da cultura estrangeira, incorporando-a na realidade brasileira para dar origem a uma nova cultura transformada, moderna e representativa da nossa cultura. O Abaporu foi vendido no ano de 1995 para o argentino Eduardo Constantini  por 1,5 milhões de dólares e encontra-se exposto no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires.

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