terça-feira, 14 de junho de 2016

Professor paulista é o primeiro cego a tornar-se livre-docente no Brasil

Por meio de maquetes, o professor Eder Camargo ensina
Física aos alunos
       Primeiro professor com deficiência no País a receber o título de livre-docência, Eder Pires de Camargo, de 43 anos, é natural de Lençóis Paulista, no interior do Estado. Ele conquista o degrau mais elevado carreira acadêmica em Física pela Universidade Estadual Paulista, a Unesp (o primeiro é professor titular).

      Foi quando tinha nove anos de idade que o professor começou a perder a visão, restando apenas um pouco de visão lateral periférica que serve de auxílio na locomoção noturna, onde é possível perceber detalhes, como por exemplo, o meio-fio da calçada. Quando chegou à graduação, em 1992, teve que contar com a ajuda da mãe da irmã, que liam para ele os textos científicos, devido à falta de publicações acessíveis na época. Além disso, a família e amigos transcreviam entrevistas e as digitavam para facilitar o estudo de Eder. A licenciatura em Física foi concluída em 1995. E a vontade em ensinar o motivou a concluir o mestrado, doutorado e pós-doutorado na mesma área.

       Seus estudos, nos últimos dez anos, focaram em alternativas de ensino de Física para pessoas com ou sem deficiência visual que culminaram na conclusão de sua tese de livre-docência pela Unesp Ilha Solteira. Com 492 páginas, seu trabalho tomou por base referências bibliográficas de cerca de 40 publicações. E desde o ano 2000, ele utiliza o programa de computador Virtual Vision, que escaneia livros que ganham voz. Mas, de acordo com ele, uma das dificuldades é que o aplicativo não reconhece equações, gráficos nem figuras, bastante empregados no mundo da Física. A saída, para isso, era pedir aos familiares que interpretassem as figuras contidas nas publicações. Então ele as decifrava e fazia a sua própria análise.

Trabalho como professor

       Na sala de aula, Camargo usa como recurso o computador com voz e maquetes. E apesar de não ver quase nada consegue escrever no quadro-negro, pois foi alfabetizado na infância. Sua didática de ensino prioriza trabalhos em grupos e debates, pois acredita que a metodologia ativa facilita a aprendizagem.

       O educador já publicou cinco livros. O sexto, Inclusão e necessidade educacional especial: compreendendo identidade e diferença por meio do ensino da física e da deficiência visual. A expectativa do professor é distribuí-los entre licenciados de Física de universidades públicas paulistas e professores da rede de ensino pública estadual.

Fonte: Diário Oficial

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