quarta-feira, 11 de março de 2015

O passado que não deve voltar

Um dos métodos de tortura da época
Em meio ao cenário político atual, com manifestações que pedem a volta do regime militar e o impeachment da Presidente Dilma Roussef, um grupo de ex-militantes políticos se reuniu, no último dia 10, para relembrar os anos em que lutaram contra a ditadura militar, na década de 60. O encontro aconteceu no Campus de Guarulhos, da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp, em evento organizado pela Comissão da Verdade Marcos Lindenberg, a CVML, da Universidade. Na época estudantes da Escola Paulista de Medicina, da Unfesp, Crimeia Alice de Almeida, Luis Carlos Aiex e Regina Elza Solitrineck foram presos em 1968 enquanto participavam do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes, a UNE, em Ibiúna, interior de São Paulo.

A psiquiatra, Regina Soitrineck disse que o momento atual é muito parecido com o do início da ditadura. Segundo ela, hoje as manchetes veiculadas na mídia são muito parecidas, sem qualquer conteúdo político. E aqueles que agora pedem a intervenção militar, não tem a mínima ideia do que é viver sob este regime. 

Diferente daquela época, na visão da enfermeira Crimeia Alice, atualmente o raciocínio político é muito primário. As manifestações da década de 60 eram muito mais organizadas, comparada com as de agora, em que julga tudo muito disperso.

O congresso estudantil, realizado clandestinamente em um sítio em Ibiúna, em 1968, reuniu cerca de mil pessoas que atuavam na militância contra a ditadura militar. A ação dos policiais, ocorreu após denúncias de moradores, que estranharam a movimentação atípica na cidade. Cerca de 200 policiais armados invadiram o local e atiraram para o ar para intimidá-los. Todos estudantes foram presos.

Entenda o que é a CVML

A Comissão da verdade Marcos Lindenberg foi criada pela Resolução nº 88, de 12 de junho de 2013, com o objetivo de “examinar e esclarecer as violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura militar, compreendendo o período entre 01 de abril de 1964, data do golpe de Estado, e 05 de outubro de 1988, dia de promulgação da nova Constituição, envolvendo membros da comunidade universitária, incluindo docentes, alunos, funcionários, bem como pessoas prejudicadas por atos da instituição, ainda que sem vínculo formal com esta.”

Ao contrário do que pode parecer, para aqueles que não estão familiarizados com as comissões da verdade, o seu objetivo não é estabelecer uma verdade única e inquestionável. Mais importante do que concordar sobre a verdade, é necessário investigar os fatos e permitir o restabelecimento do debate público sobre acontecimentos oficialmente negados, mas que efetivamente ocorreram, e que não deixam de assombrar o passado recente da nossa universidade. 

A comissão foi batizada com o nome do professor Marcos Lindenberg, Reitor da Universidade Federal de São Paulo deposto pela ditadura militar no dia 4 de abril de 1964, quando se instalou um clima de desconfiança geral na comunidade universitária. As perguntas que a comissão da verdade busca responder são as seguintes:

- de que maneira a comunidade universitária foi afetada pela Ditadura Militar?
- quem foram os professores, alunos e funcionários, diretamente prejudicados pelo regime de força que se instalou? Quem foi fichado nos arquivos do DOPS, quem foi citado em inquéritos policiais e acusado de cometer crimes políticos, quem foi submetido a torturas, quem foi preso, quem foi excluído da universidade, quem teve que se esconder na clandestinidade, quem veio de outras universidades e encontrou abrigo na Unifesp?
 - qual foi o impacto causado por esses acontecimentos na organização do movimento estudantil?
 - quais foram os mecanismos de vigilância instalados dentro da universidade?
 - foi criada uma Assessoria de Segurança e Informação (ASI) na Unifesp, como aconteceu em várias outras universidades, de maneira a funcionar como braço operacional da Divisão de Segurança e Informação (DSI) que funcionava no Ministério da Educação (MEC) e se reportava ao Serviço Nacional de Informações (SNI), de acordo com a estrutura do Sistema Nacional de Informações (SISNI)?
    
A composição da comissão é multidisciplinar e conta com professores, técnicos e alunos provenientes de vários campi e áreas do conhecimento, pois o respeito dos direitos humanos e a democracia estão intimamente relacionados com o princípio do diálogo e do debate público amplo, geral e irrestrito, de modo que seja possível lidar com as diferenças sem o recurso à violência.

Fonte: site da Unifesp


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