segunda-feira, 2 de março de 2015

O beijo da homofobia ou a homofobia do beijo?

"Beijinho não! Porque carioca não beija", diz com firmeza a repórter diante de dois cariocas, personagens da matéria sobre os hábitos e manias do povo local. Embora o tom da matéria tenha sido descontraído e informal, mas foi mais um a somar-se ao preconceito de muitos, cariocas ou não, tem sobre o gesto entre pessoas do mesmo sexo. Não! Entre dois homens.

Desde os tempos mais remotos, o significado do beijo no rosto entre os homens estava muito longe de ter uma correlação entre sentimentos homossexuais. Em 1927, o filme Wings (Asas), primeiro a vencer o Oscar e o primeiro, de que se tem registro, a mostrar dois homens beijando-se na face mostra os amigos, personagens de Jack Powell e David Armstrong, demonstrando o afeto no momento em que este último estava à morte. Esta cena, encontra-se com o argumento do escritor Kristoffer Nyrop, que em seu The Kiss and Its History, descreve o beijo como a última prova afetuosa de amor que agraciamos a quem amamos. Hoje, entre os vivos, o medo e o pavor que este carinho significa, principalmente entre os latinos americanos, inibe homens a demonstrarem uma relação de afeto a outro homem. No Brasil, pode-se notar tal demonstração entre laços familiares ou de amizade. Mas isto está longe de ser uma maioria absoluta.

Argumentos como "homem não beija", e "homem não chora", bradados por pais a seus filhos, levam meninos a acreditarem que beijar um amigo coloca sob suspeita sua orientação heterossexual. Aí é que mora ainda mais o preconceito. Qual o problema se um beijo público entre homens for considerado um comportamento homossexual? Por que ser chamado de "gay" é uma onfensa, um insulto? Talvez porque aquilo que não se aceita, se despreza. E o que é desprezível, é vergonhoso e não merece consideração.

Nos jogos de futebol, torcidas gritam todos os substantivos que remetem aos homossexuais, no intuito de ofender o adversário. Conseguem atingir seu objetivo, quando a torcida rival responde com igual provocação.

Sabemos que a educação é uma das formas de combate à homofobia. Mas a curto prazo, uma medida inusitada poderia surtir um efeito inesperado, num clássico do futebol. Oferecer um ingresso ao torcedor que aceitar beijar em público seu rival. Mesmo porque num país onde o futebol é a paixão nacional, um beijo é muito mais representativo ao sentimento caloroso da paixão, do que socos e pontapés que diariamente vemos nos campos de futebol.

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