terça-feira, 17 de março de 2015

Ética x classe social

"Morador de rua encontra uma carteira com 20 reais e devolve ao dono, em Capão Bonito, São Paulo". (G1 - 15/02/15)
"Casal de moradores de rua acha uma sacola com 20 mil reais, roubados de um restaurante japonês, e devolve ao dono". (R7 - 10/07/12)
 
 
 
 
Muito mais do que belos exemplos, as manchetes acima não são casos isolados. Elas mostram uma realidade comprovada em pesquisa: pessoas de classes baixas tem maiores chances a serem éticas do que pessoas com rendas mais altas. A explicação está no fato de que as pessoas de classes mais baixas estão na marginalidade e, quando tomam atitudes antiéticas, afirmam mais ainda sua classificação marginal. Para serem reconhecidas socialmente, essas pessoas precisam ter um esforço maior em serem moralmente corretas. As pessoas da classe mais alta, no entanto, por já estarem no status de poder, não têm a necessidade de grande esforço e muitas vezes tomam atitudes antiéticas, pois não correm grandes riscos e sempre podem recorrer ao poder econômico.

Para a pesquisa chegar a essa conclusão, realizada por membros da Universidade da Califórnia e da Universidade de Toronto e publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS) foram feitos alguns estudos. Os dois primeiros se focaram em analisar a frequência e a tendência em cometer infrações de trânsito. Nos outros cinco estudos de laboratório foram avaliadas as tendências em situações gerais de se tomar decisões antiéticas, tirar vantagens em benefício próprio, mentir ou trapacear a seu favor, por exemplo, e a tendência a tomar atitudes antiéticas no ambiente de trabalho. 

Foram apresentadas aos participantes situações como: pegar papel da empresa onde trabalha para uso pessoal, obter dados de uma prova com seus colegas que conseguiram uma cópia antes do exame, ficar com o troco errado que foi dado a mais, não falar nada ao professor que tomou como corretas respostas em sua prova que estavam erradas, ou também usar trabalhos prontos para fazer seu trabalho. Então, diante destas situações, eles, os participantes, deveriam se imaginar na situação e classificar entre 1 e 7 de acordo com a probabilidade de tomarem essas atitudes.

Em outro momento do estudo, outras duas situações. Em uma, eles deviam falar o que fariam numa situação de trabalho na qual, se mentissem, ganhariam benefícios na empresa. Na outra, se cumpririam eficazmente a tarefa que lhes foi dada, mas prejudicariam outra pessoa. Os participantes ainda deram suas opiniões em afirmações como a de que para ser bem sucedido é necessário aproveitar as oportunidades, e não é moralmente ruim pensar em seu próprio benefício acima dos outros.

O resultado destes estudos que avaliou o engajamento de indivíduos em atitudes antiéticas revelou que as pessoas de camadas sociais mais elevadas possuem maiores tendências para tal tipo de comportamento.

A razão desses resultados, segundo os pesquisadores, está no valor de maximização do interesse próprio e individual nas camadas mais altas. A possessão de altos recursos e a independência criam um maior foco em si mesmo e incorpora-se um sentimento positivo em relação à ganância.

Mais dados sobre a pesquisa: http://www.pnas.org/content/

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