Chamou atenção a notícia veiculada ontem pelo portal UOL, de que Steve
Weatherford, do New York Giants e Sidney Rice, do Seatle Seahawks, duas
estrelas da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, decidiram doar
seus cérebros para pesquisas médicas depois de mortos. O que pode parecer
novidade, começou bem antes. Em 2009, a liga chegou a um acordo com a
Universidade de Boston, para que os cérebros dos jogadores fossem
estudados, através de pedido feito aos
atletas para concordarem com a doação para a ciência.
A intenção é verificar os danos sofridos no cérebro destes jogadores ao
longo de uma carreira marcada por choques entre os competidores, que podem
superar os 150 quilos. Em estudos semelhantes, só que com jogadores de hóquei
sobre o gelo e lutadores de boxe, ao longo da carreira, ficou constatado a
relação direta entre os traumas cerebrais derivados do esporte e lesões graves
posteriores.
No Brasil, ano passado, iniciativa parecida foi feita pela família do
ex-jogador de futebol Hideraldo Luiz Bellini, após a morte do capitão da Copa
de 1958. O ex-jogador sofria de mal de Alzheimer. Por isso, neste caso, a
doação teve outro propósito. O objetivo foi ajudar em estudos que tentam
esclarecer as ligações entre atividades atléticas e a decorrência da doença e
de demais patologias neurológicas. A decisão atendeu ao pedido de um dos
neurologistas que acompanharam Bellini.
Criado em 2004 e coordenado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Banco de Encéfalos Humanos, do Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral, o BEHGEEC, possui uma das maiores coleções de tecido encefálico do mundo. Só em 2012, coletou amostras de mais de 2,7 pessoas, a fim de ajudar pesquisas sobre doenças neurológicas no país. Com essas amostras, foi possível aos pesquisadores descobrirem, por exemplo, as causas da demência. O banco guarda também material de pessoas com 50 anos ou mais sadias ou doentes, no intuito de ajudar os pesquisadores a estudarem o processo de envelhecimento. O trabalho do banco já despertou o interesse de vários centros de pesquisa do País e do mundo, como Estados Unidos, Alemanha, Itália e Portugal, entre outros, fazendo dele a principal fonte de cérebros brasileiros para a ciência mundial.
A primeira etapa é feita
pelo Serviço de Verificação de Óbitos da Capital, também da USP, que faz
as autópsias em caso de morte desconhecida, sem causa definida;
equivalente ao que faz o Instituto Médico Legal, o IML, em casos de morte
violenta. O SVOC existe desde 1931 e a partir de 2004, com a criação do banco,
uma equipe de enfermeiros pergunta às famílias se elas aceitam doar o cérebro
do morto para pesquisa. A taxa de recusa é baixa, perto dos 5%. Os cérebros
não são guardados por inteiro; o que se guarda são partes de várias regiões
cerebrais, conservadas de diferentes maneiras para diferentes aplicações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário