domingo, 1 de maio de 2016

Borboletas criam novas estratégias para escapar de predadores

Exemplar da espécie Heraclides anchisiades capys, que
apresenta semelhanças com a Parides
      Ao longo da evolução, várias espécies de borboletas desenvolveram características como a liberação de toxinas resultante em um gosto desagradável para evitar a predação pelos pássaros. Além disso, estes insetos impalatáveis, acabaram também alardeando sua toxidade por meio da exibição de cores vivas, um sinal de aviso aos predadores sobre o gosto ruim. 

     Por outro lado, as borboletas palatáveis, sob pressão da predação, também desenvolveram táticas de sobrevivência. São mais rápidas, e o padrão de cores indica esse comportamento. 


Parides anchises nephalion, que tem o estilo imitado
pela Heraclides
      As palatáveis e mais lentas seriam, naturalmente, alvos dos predadores. Para sobreviver, elas também, elas imitam as cores das não palatáveis. Ou seja, as borboletas não palatáveis não precisam investir em estratégias de fuga. Podem voar lentamente porque sua defesa é o seu veneno. Já as palatáveis precisam ser rápidas ou imitar aquelas impalatáveis para não serem comidas. Agora, pesquisadores da Universidade de Campinas, a Unicamp, descobriram que nem sempre é isso o que ocorre.

       Os pesquisadores estudaram duas espécies: a Heraclides anchisiades capys e Parides anchises nephalion. A primeira é muito rápida e palatável. Já a segunda, não palatável, é lenta e muito venenosa. Acontece que, apesar das diferenças e de não haver nenhum grau de parentesco, elas são muito parecidas em padrão de coloração. A primeira exibe um padrão de asas parecido com o estilo da Parides, esta uma habitante das regiões tropicais das Américas. Mas isso não é exclusivo da Heraclides, muitas outras imitam a Parides; um exemplo clássico de mimetismo, onde a palatável imita a não palatável e ganha vantagens com isso. Mas de todas que imitam a Parides, a Heraclides é uma das mais rápidas e a que possui a maior distribuição geográfica nas Américas. 

       A Heraclides parece associar o seu padrão a sua coloração à aparência de uma borboleta muito tóxica, como estratégia de defesa para afugentar predadores. A ave que ignorar o padrão de cores tóxicas e tentar predar a Heraclides acabará perseguindo uma borboleta muito rápida e gastando energia sem conseguir alimento. Ao usar o mimetismo para enganar as aves, essa borboleta minimiza ao máximo as chances de predação e pode se voltar à tarefas como alimentação e reprodução. A veloz imita a tóxica e, dessa forma ganha vantagens adaptativas ao associar a sua velocidade a uma característica (a toxicidade) identificada pelas aves como gosto ruim.

       A Parides é uma das borboletas mais venenosas da América tropical. Seu voo é lento e a padronagem se assemelha à veloz Heraclides. Uma vive nos trópicos e a veloz nas Américas prova que último ancestral comum das velozes e palatáveis Heraclides mimetizou a impalatável Parides e a vantagem adaptativa advinda deste mimetismo levou a espécie a se espalhar pelas Américas. E o estudo evidencia que a distribuição geográfica mais limitada da Parides parece sugerir uma outra possibilidade. Uma borboleta muito venenosa imitaria outra muito rápida e de ampla distribuição também para minimizar as chances de predação.

Fonte: Agência Fapesp
Fotos: Ruby-spotted Sweallowtail
          Horacio Alberto Dali - FotoNat

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