A Listeria monocytogenes é um patógeno que sequer aparece nas estatísticas epidemiológicas |
Em pesquisa do Centro de Pesquisas em Alimentos/Food Research Center da Universidade de São Paulo, a mestranda Daniele Faria simulou em laboratório a contaminação cruzada em um fatiador de frios e conseguiu demonstrar que esta bactéria é transferida a duas centenas de fatias de rosbife cortadas por um aparelho cortado com o micro-organismo.
O estudo comprova que, apesar de o processamento térmico desses alimentos ser suficiente para eliminar esse micro-organismo, a ocorrência de contaminação cruzada pós-processamento pode resultar em aumento de risco à saúde do consumidor. Esta bactéria é um patógeno que pode estar presente em alimentos prontos para o consumo, pois são mantidos em refrigeração e possuem longa vida de prateleira, o que favorece em sua multiplicação. A Listeria monocytogenes é causadora da doença listeriose, infecção que tem incidência baixa, mas alto grau de severidade e alto índice de mortalidade (20% a 30%) e cujos sintomas em um adulto normal são semelhantes ao da gripe, com febres, mialgias e dor de cabeça. Ela pode causar problemas sérios em gestantes, recém-nascidos, idosos e pacientes e pacientes debilitados e imunodeprimidos. Nas gestantes, a bactéria pode causar aborto, feto natimorto, nascimento prematuro e infecções neonatais.
E a alisteriose invasiva é uma doença caracterizada pela grande presença de bactérias no sangue, com ou sem focos evidentes de infecção, ou por afetar o sistema nervoso central pode causar meningite, meningoencefalite e abcessos no cérebro. Afeta, principalmente, pacientes com mais de 50 anos, causando febre, alterações na percepção sensorial e dor de cabeça.
Teste em laboratório
Daniele adquiriu uma peça de rosbife não contaminado e inseriu nela a bactéria e a cortou. Depois de contaminado o cortador, ela passou a fatiar uma outra peça não contaminada. Ela estudou cada uma das fatias e descobriu que até a ducentésima fatia ainda havia presença da Listeria monocytogenes. E ainda que o número de bactérias diminuía a medida que aumentavam o números de fatias, a última fatia apresentou um número alto de bactérias.
De acordo com a mestranda, esse tipo de bactéria sobrevive a grande variação de temperatura - de 4 graus negativos até 50 graus Celsius. Daí que o problema pode se dar tanto em locais onde as pessoas pedem o produto fatiado quanto para quem compra a peça inteira ou ainda fatiada e acondicionada em embalagens de isopor. Além disso, ela sobrevive em alimentos com muito sal, o que é ideal nesse tipo de produto.
Com a pesquisa, a mestranda pretende alertar as autoridades sanitárias no Brasil. Ela explica que o Brasil não tem legislação para garantir que produtos como o rosbife e outros frios estejam livres da Listeria, bem como exigir um processo de limpeza e sanitização adequados em locais de fatiamento.
Fonte: Agência USP
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