terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Estudo mostra que mudança no crime organizado ajudou a reduzir homicídios

"Compreender a realidade de São Paulo, estimula a pensar
sobre novas possibilidade de se resolver o problemas de
violência, que vai além da dualidade 'polícia e prisão'"
     O número de homicídios na cidade de São Paulo caiu 76%, passando de 64,8, em 2000, para 15,4 homicídios por 100 mil habitantes, em 2012. De acordo com o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, Bruno Paes Manso, essa redução pode ser explicada como um processo que passa por diferentes cenários na capital, desde a tolerância a assassinatos na década de 1960 até mudanças na forma de atuação do crime organizado. 

     Até 1960, as taxas de homicídios sempre foram inferiores a 10 por 100 mil habitantes. Os crimes aconteciam por motivos passionais. A partir da segunda metade dos anos 1960, esse cenário foi modificado. Foi com o surgimento dos esquadrões da morte, da Polícia Militar e da Rota nas periferias - quando eram mortas pessoas ameaçadoras ou vistas como potencial ameaça. O homicídio passa a ser visto como uma solução, desencadeando processos de multiplicação, porque quando o homicídio é tolerado, pessoas que se sentem vulneráveis passam a matar ao invés de chamar a polícia. Iniciam-se vinganças, e então os homicídios se multiplicam.

Alteração

     Nos anos 2000, de acordo com o pesquisador, o conceito sobre violência é revisto, inclusive entre os homicidas, que entendem que os jovens da periferia vivem uma situação de autoextermínio. Para ilustrar este cenário, até as letras de hip-hop abordam o tema. "Eles não querem mais que irmão mate irmão. Os assassinatos causam prejuízo para o crime. Essa revisão sobre o que anda acontecendo cria a possibilidade de um novo contrato, feito dentro das prisões e gerado a partir do aprisionamento em massa. É nesse momento que o PCC passa a mediar os conflitos, controlando as pessoas dentro e fora das prisões."

     A partir daí, surge o tráfico de drogas, estabelecendo parcerias. Dentro das prisões, o tráfico de drogas é o principal crime que permite aos criminosos continuarem faturando e a política de aprisionamento em massa acaba gerando um novo gerenciamento do crime. O celular transforma o presídio em um escritório criminal. O assassinato que só causa prejuízo para o crime foi deixado de lado e o lucro passa a ser gerado com o tráfico. 

     A capital é considerada a segunda menos violenta do País, perdendo apenas para Florianópolis, em Santa Catarina. Há de se considerar também outros fatores para essa redução no número de homicídios. O envelhecimento das pessoas, a diminuição do número de armas em circulação, o aumento do aprisionamento e a melhora das técnicas policiais.

Fonte: Agência USP

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