segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Dia de celebrar?

     A palavra celebração remete a comemoração. Certo? E usá-la para referir-se a um dia em que comemorar é o que menos se faz diante da partida de um ente querido, soa de mau gosto? Sim, claro. Mas por que a morte tem que encontrar sentido na tristeza? Por que, o único acontecimento que temos como certo nos remete a dor, ao lamento? Por que a dor incomoda? Por que a morte machuca? Talvez, porque ainda, presos à vida material, nos vemos obrigados a ter de nos despedir daqueles que amamos. E mais, devemos deixa-los partir sem ter a certeza de um possível reencontro; ainda que muitas religiões insistam em nos confortar dizendo ser breve o encontro. Será?

      Infelizmente, não nos foi ensinado como lidar com a despedida. Dói saber que nunca mais veremos aqueles que tanto amamos. Dói saber que ele ou ela não estará mais ao nosso lado para nos confortar quando a dor surgir. Dói não mais poder brincar. Dói não mais ter com quem brigar. Dói saber que abraço não mais será dado, e o beijo no lábio não será mais compartilhado.

      Também não nos foi ensinado como lidar com o tempo. E por isso não temos a consciência de que ele não é o nosso amigo, o nosso aliado. Ele não espera pelo minuto certo para providenciar a despedida. Ele apenas faz acontecer.

     Como não há outro caminho, e todos nós, mais cedo ou mais tarde, iremos passar pela dor da despedida, por que não comemorar? Comemorar por ter conhecido o amigo. Celebrar por ter podido aprender com o  pai, a mãe que partiram. Celebrar por ter aprendido com aquele tio que fez o papel do ausente pai. Celebrar pelos avós que tiveram a palavra carinhosa, quando a paterna foi ausente. Celebrar as risadas que brotaram nas situações mais inesperadas. Celebrar o abraço que lhe foi dado pelo sujeito a quem você viu apenas uma vez, e tão cedo soube da sua morte. Celebrar os ensinamentos e que, por causa deles, você é capaz de ensinar outrem. Celebrar as pinturas, a arte, que detalhadamente transmitem os sentimentos daquele que as fez. Celebrar, celebrar, celebrar. 

     E por mais que seja difícil celebrar a dor pelo outro que se foi, talvez seja fácil imaginar que um dia alguém possa celebrar ter te conhecido. Portanto, viva o breve momento e celebre a oportunidade que a vida lhe deu de poder estar junto.

     

     

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