sexta-feira, 25 de março de 2016

LER&SER: Jorge Luis Borges, um escritor na periferia - Beatriz Sarlo

      Peça fundamental da fortuna crítica do autor, Jorge Luis Borges, um escritor na periferia chega em boa hora às mãos dos leitores brasileiros. Publicado originalmente em inglês, em 1993, este é um desafio polêmico à visão corrente - e unânime, demasiado unânime - de Borges como um fabulista soberano que nada deve à história nacional e à tradição literária de sua Argentina de origem. 

     Beatriz Sarlo é a primeira a reconhecer o tanto que há de "justiça estética" na "universalização triunfal" da obra do autor - mas, suspeitando que nesse reconhecimento vai uma dose de perda, a crítica argentina prefere trafegar na contramão do lugar-comum vigente e providenciar "uma paisagem para Borges". Não para prendê-lo aos limites de uma literatura nacional, não para devolvê-lo a um "cenário pitoresco e folclórico que ele sempre repudiou". 

     Trata-se aqui de resgatar o diálogo do autor portenho com os textos e os autores a partir dos quais ele produziu suas rupturas estéticas e suas polêmicas literárias. Isto é, com Dante, Cervantes, Kafka e as Mil e Uma Noites, certamente, mas também com Sarmiento, Evaristo Carriego, Macedonio Fernández e o Martin Fierro - com vultos e livros que estão longe de pertencer ao cãnone ocidental ou universal, mas que solicitaram e mereceram a atenção de Borges ao longo de toda a sua vida. O resultado, de gosto muito borgiano, é o retrato perspicaz de um escritor que, longe de negá-la, converteu sua condição periférica - argentina e latino-americana - em situação privilegiada da qual perturbar as fronteiras entre os gêneros, inverter os fluxos da história literária e perturbar a fundo as noções de local e universal, de centro e periferia.

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