quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Você já ingeriu sua dose diária de agrotóxico hoje?

Os agrotóxicos são utilizados no Brasil desde a década de 50,
para controlar pragas e aumentar a produtividade. Lei sobre
produção, comercialização e uso é de 1989, regulamentada
em 2002.
Se para uma vida saudável, a recomendação dos profissionais de saúde são dois litros de água por dia, uma vida nada saudável poderia levar em conta o consumo de agrotóxicos. E de fato, estamos "consumindo" esses herbicidas mais do que deveríamos - isso é se de fato deveríamos. Na safra de 2013/2014 foram utilizados cerca de 1 bilhão de litros, o que gera uma média de 5 litros de agrotóxicos por habitante. De acordo com especialistas, apesar do Brasil ser o segundo maior produtor de alimentos do mundo - só perde para os Estados Unidos - é o primeiro no que diz respeito ao consumo de agrotóxicos. Enquanto nos últimos dez anos, o mercado deste setor cresceu 93%, no Brasil, esse crescimento foi de 190%. 

O médico e professor Wanderley Pinhatti pesquisa os impactos dos agrotóxicos para a saúde e o ambiente. Ele explica que "quando esses produtos são aplicados na lavoura, primeiramente eles vão para os alimentos, para a planta e depois ele vai sair para os grãos. Uma parte vai para a água, atinge o lençol freático e depois sai na água que a gente está bebendo. Uma parte evapora, vai para o ar e atinge quilômetros de distância. Outra parte, inclusive, condensa na chuva, vai para outros animais, ou seja, contamina o solo.Nos humanos, vai para o sangue e a urina, vai para o tecido gorduroso".

O Sindiveg, sindicato formado por 50 empresas produtoras de defensivos agrícolas, defende a prática alegando que caso não fossem realizados manejo integrado, boas práticas agrícolas e a aplicação de agroquímicos, muito da produção agrícola brasileira seria perdida por doenças, plantas daninhas e pragas.

Antes de ser comercializado no país, o agrotóxico precisa passar por avaliação. Segundo o coordenador-geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, o Ibama, o controle é feito por três órgãos. O Ibama, avalia a questão ambiental. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, avalia a questão da toxidade humana e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o MAPA, responsável em avaliar a eficiência agronômica. Ainda assim, são produtos potencialmente perigosos.

Segundo o Dossiê Abrasco, 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos. Desses, segundo a Anvisa, 28% contém substâncias não autorizadas. Isso sem contar os alimentos processados que são feitos a partir de grãos geneticamente modificados, contendo essas substâncias químicas. O pimentão é a hortaliça mais contaminada por agrotóxico, seguido do morango, pepino, alface, cenoura, abacaxi, beterraba e mamão.

O mais grave é que mais da metade dos agrotóxicos usados hoje no Brasil são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos. O uso dessas substâncias está altamente associado à incidência de doenças como o câncer e outras genéticas. Dada a gravidade, o Ministério Público Federal enviou um documento à Anvisa recomendando que seja concluída com urgência a reavaliação toxicológica de uma substância chamada glifosato para que o herbicida seja banido do mercado nacional. Recentemente, essa substância foi associada ao surgimento de câncer.

Outras vendidas livremente, como o 24D, foi pulverizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, deixando sequelas em uma geração de crianças que, ainda hoje, nascem deformadas, sem braços e pernas. No ano passado, a pesquisadora norte-americana do Massachussets Institute of Technology, o MIT, Stephanie Seneff, apresentou um estudo alarmante. Até 2025, uma a cada duas crianças nascerá autista, fazendo uma correlação entre o Roundup, o herbicida da Monsanto feito a base do glifosato, e o estímulo do surgimento de casos de autismo.

Embora perigosos, existe no Brasil uma barreira muito forte que protege a suspensão dessas substâncias. Há uma pressão muito grande da bancada ruralista no Congresso Nacional e de empresas do setor. Em 2014, o setor de agrotóxicos movimentou aproximadamente US$12 bilhões, o que equivale a R$39 bilhões.

Alternativa

Uma alternativa para se proteger dos agrotóxicos são os produtos orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo. Porém, são pouco acessíveis à maioria da população; em média 30% mais caros e não estão disponíveis em todos os lugares.


Fonte: Empresa Brasileira de Comunicação e El País

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