sábado, 15 de agosto de 2015

As consequências da imigração internacional recente para São Paulo

Discriminados, os imigrantes negros sofrem diversos tipos
de violência, da física à moral
Recentes casos de violência a imigrantes, como o que ocorreu com o grupo de haitianos que circulavam pelas ruas e foram baleados por projéteis de chumbinho, tendo como motivação uma possível xenofobia, levou o Núcleo de Políticas Públicas e o Grupo de Estudos Gênero, Mulheres e Temas Transnacionais, Gemttra, ambos da Universidade de São Paulo, a realizar o seminário Imigração Internacional Recente para São Paulo, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da USP. O evento ocorreu no último dia 11 de agosto.

"Melhorar de vida. Este é o objetivo principal que motiva a vinda de milhares de imigrantes para o país", é o que revela a coordenadora do Gemttra, a professora Maria Quiterio. Em São Paulo, estes imigrantes são em sua maioria pessoas pobres, discriminadas, geralmente negros, que buscam ajuda de abrigos, organizações religiosas e moram nos bairros centrais e periferias da cidade. 

De acordo com o último Censo Demográfico, de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o número de imigrantes que, vindos de outros países, viviam no Brasil há pelo menos cinco anos e em residência fixa chegou a 286.468, número 86,7% maior que o registrado no Censo de 2000.

Historia


São Paulo foi, de longe, o Estado que mais atraiu
os imigrantes italianos
Após a escravidão, uma das prioridades do governo vigente era substituir o trabalho escravo pelo trabalho livre de imigrantes europeus. "A chamada 'imigração familiar' foi por muitos anos prioritária pelo governo. Fundamentada numa concepção eugênica de 'embranquecimento da população', a política da época acreditava que a introdução de cidadãos europeus via subvenção estatal renderia frutos positivos para o País. Fato que jamais  corroborou com a realidade dos migrantes que, vindos da Itália e outros países europeus, também fugiam de situações críticas, pobreza extrema e não tinham qualquer preparo especial para o trabalho aqui", contou a pesquisadora.

Com o passar dos anos, o Brasil permaneceu como rota de diversos países, sem acomodar suas políticas e legislação para essa nova realidade. E hoje, conhecer quem são esses estrangeiros, é fundamental. Berenice Young, mestre em Psicologia Social e que atua como psicóloga do Serviço Psicossocial do Eixo Saúde na Missão Paz (organização missionária que acolhe imigrantes e refugiados em São Paulo), revela que muitos imigrantes hispano-americanos, que entrevistou, deixaram seus países não somente pra saírem da extrema pobreza, mas por conflitos particulares, como fugas em detrimento de relações pessoais, discriminação e até mesmo luto. 

O Haiti é aqui?

Primeiro país do mundo a abolir a escravidão, em 1794 e obter sua independência na América Latina, o Haiti teve que lidar com uma ocupação americana que motivou uma das primeiras diásporas migratórias entre 1915 e 1934. Quando governado por François Duvalier, o país sofreu nas mãos de uma implacável ditadura que, desde 1957, levou a uma nova fuga de parte da população até 1980. Democraticamente restaurado, mas pacificamente instável nas décadas seguintes, o pais sofreu um duro golpe com o terremoto de 2010, responsável pelo novo levante migratório. 

Alex André Vargas, membro do Instituto do Desenvolvimento da Diáspora Africana no Brasil, lembra que os primeiros africanos que vieram para o Brasil após a escravidão chegaram nas décadas de 1960 e 1970, pós-independência de países na África. Em seguida, vieram os refugiados de governos em crise. Atualmente, muitos dos novos migrantes são jovens estudantes que vêm ao País por meio de acordos bilaterais entre o Brasil e países africanos; muitos estudantes de universidades públicas. Para Maria Quitério, se faz cada vez mais necessária a criação de uma lei atualizada que dê conta da realidade migratória contemporânea. 

Em tempo. Os artigos 13 e 14 da Declaração Universal dos Direitos Humanos preconizam que todas as pessoas têm o direito à liberdade de se moverem dentro das fronteiras de cada Estado, assim como livremente circular no interior de um país. Para os participantes do seminário, no Brasil ainda falta identificar quem de fato faz parte do todo.


Fonte: USP
Foto: Blog Universitário Africano

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