terça-feira, 26 de abril de 2016

Vamos falar sobre..."aqueles dias"

Se tratada com naturalidade, pode
abrir caminhos para políticas públicas
de saúde
       Menstruação. Desde que o mundo é mundo toda mulher um dia já menstruou. Mas por que o assunto ainda é tratado com certo tabu ou distanciamento? Por que as mulheres sentem-se desconfortáveis publicamente sobre uma situação que é absolutamente normal e corriqueira? Se os homens menstruassem, o assunto seria encarado com mais naturalidade? Tais abordagens foram tratadas em recente artigo na revista Newsweek.

        Abigal Jones descreve que tão natural quanto comer, beber e dormir, a maioria das mulheres detesta falar sobre ele. Quando meninas, assim que menstruam, elas se fecham em silêncio, obrigadas a lidar com todo o desconforto. As mulheres de um modo geral tentam esconder o absorvente nas idas aos banheiros públicos para que ninguém saiba que estão em seu ciclo menstrual. Todas já passaram pela situação constrangedora de ter roupas manchadas, ao passo que as campanhas publicitárias ainda insistem em mostrar com cenas nada reais dessa confusão sangrenta.

        Em 1978, Gloria  Steinem, pioneira feminista, ao ser questionada sobre o que aconteceria se os papéis se invertessem e os homens começassem a menstruar, disse,de forma cômica, que os homens iriam se gabar comparando-se uns aos outros sobre a quantidade do fluxo e o tempo de duração do período. Eles usariam esta condição para seus próprios benefícios, como no trabalho, posições de liderança, cargos públicos. "Haveriam os absorventes Paul Newman. E os diálogos seriam mais ou menos assim: "Ei, cara, como vai?". "Estou bem, estou naqueles dias". Quarenta anos depois, e pouca coisa mudou. Na maioria dos estados norte-americanos há impostos para os absorventes íntimos, que não são inseridos nas fraldas geriátricas e no Viagra, por exemplo.

         Banheiros femininos, públicos e privados, não dispõem de absorventes íntimos; ainda que para venda. O desconforto é maior para as presidiárias e mulheres que vivem nas ruas. A situação piora mais ainda em países em desenvolvimento. Tabus, pobreza, instalações sanitárias inadequadas e a cultura do silêncio criam um ambiente em que às meninas e às mulheres é negado o que deveria ser um direito básico. De acordo com relatório de 2015 da UNICEF e da Organização Mundial da Saúde, pelo menos 500 milhões de meninas e mulheres não têm meios adequados para sua higiene íntima. Na zona rural da Índia, uma em cada cinco meninas abandona a escola depois que começam a menstruar. Das 355 milhões de meninas e mulheres indianas que menstruam, apenas 12% usam absorventes íntimos.

Igualdade de gênero

        Há nos Estados Unidos um movimento, iniciado por ativistas, inventores, políticos, fundadores de startups e pessoas comuns, que pretende tirar o estigma que há sobre a menstruação. Não se pode acreditar numa política de igualdade de gênero se a menstruação não for debatida abertamente. Mas o assunto nem sempre foi tabu. Em culturas antigas era um sinal de honra e poder, um tempo sagrado para as mulheres descansarem e um processo de autoconhecimento. Depois disso, a menstruação foi envolta de silêncio, quebrado em 1970, quando o médico Edgar Berman, membro do Comitê do Partido Democrata, sugeriu que as mulheres não poderiam exercer cargos públicos por conta das suas mudanças hormonais. Disse: "imaginem uma mulher na presidência de um banco fazer um empréstimo sob o ataque de fúria causado pelos hormônios". Estes comentários levaram a sua renúncia.

       Tempos depois, e o presidente Barack Obama se tornou o primeiro presidente a debater o assunto publicamente, quando uma jovem lhe questionou do porquê os absorventes serem tributados como artigos de luxo. Obama disse que não saberia responder a pergunta, mas que talvez fosse porque as leis foram feitas pelos homens.

Fonte: NewsWeek

Um comentário:

  1. Ótimo artigo. Nunca havia pensado em como as mulheres que vivem nas ruas lidam com isso...NOSSA!!! E o Obama tem razão; enquanto formos minoria no legislativo nada vai mudar, e, no caso brasileiro, atualmente, pode mudar pra pior.

    ResponderExcluir