quinta-feira, 14 de abril de 2016

QUINTA FEMININA: A vida e a luta de Zuzu Angel

A dor da perda do filho estampou a moda de Zuzu
Angel.
      Em 5 de junho de 1921 nascia Zuleika Angel Jones, mas foi como Zuzu Angel que a estilista e ativista política brasileira ficou conhecida. Personagem notória do Brasil da época da ditadura militar, destacou-se não somente por seu trabalho inovador como estilista, mas também por sua procura pelo filho, Stuart Angel Jones, militante, assassinado pelo governo e transformado em desaparecido político. Pelo filho, Zuzu enfrentou as autoridades da época e levou sua busca a se tornar conhecida no exterior. Sua morte pelos agentes de repressão do Departamento de Ordem Política e Social - DOPS - do Espírito Santo foi confirmada, somente em 2014, por Claudio Antônio Guerra, ex-agente da repressão, durante a Comissão Nacional da Verdade.

      Como estilista, Zuzu começou a costurar e criar modelos quando ainda era criança, fazendo roupas para as primas. De Minas Gerais mudou-se para a Bahia, onde foi influenciada pela cultura daquele estado, tornando-se pioneira na moda brasileira. Nessa época conheceu o norte-americano Norman Angel Jones, com quem se casou. Seu sucesso chegou aos Estados Unidos. Zuzu misturava renda, seda, fitas e chitas com temas regionais e do folclore, com estampados de pássaros, borboletas e papagaios. Mas foi no Rio de Janeiro que, nos anos 70, com muito esforço, conseguiu abrir sua loja de roupas em Ipanema.


Mesmo depois de morto, o rosto de Stuart estampou
cartazes com o rótulo "Procurado"
       Seu filho, Stuart Jones, estudante de Economia, passou a integrar as organizações que combatiam a ditadura militar no Brasil. Preso em 14 de abril de 1971, Stuart foi torturado e morto pelo Centro de Informações da Aeronáutica e dado como desaparecido pelas autoridades. A partir daí, começaria a luta de Zuzu pela recuperação do corpo do filho, envolvendo os Estados Unidos. Aproveitando-se da moda, criou uma coleção estampada com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos. O anjo, ferido e amordaçado em suas estampas, tornou-se também o símbolo do filho. Conseguiu fazer sua historia chegar aos jornais daquele país, e suas roupas passaram a ser comercializadas nas grandes redes.

       Zuzu, com fama reconhecida, apelou a diversos políticos importantes e celebridades para que ajudassem a encontrar o corpo de seu filho. Seu caso chegou ao Senado dos Estados Unidos através de um discurso do senador Edward Kennedy. Foram anos em busca do corpo do filho, sem poder dar-lhe um enterro. E mesmo depois de Stuart morto, o governo militar espalhava cartazes com o rosto do estudante e o rótulo "Procurado".

Morte

      A busca de Zuzu só teve fim com a sua morte, ocorrida na madrugada de 14 de abril de 1976, num acidente de carro na Estrada da Gávea, à saída do túnel que hoje leva o seu nome. Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu-a como pessoa que "por ter participado, ou por ter sido acusada de participação, em atividades políticas, tenha falecido por causas não-naturais. Em seu relatório final, em 2007, a Comissão inseriu o depoimento de duas testemunhas onde afirmaram que o carro de Zuzu fora fechado por outro e jogado para fora da pista.

      Em 2013, a organização independente Wikileaks vazou um documento do governo norte-americano, datado de 10 de maio de 1976, que comentava a morte de Zuzu num desastre automobilístico e mostrava preocupação com o fato e sua repercussão no Brasil e no exterior, atentando que "para qualquer um familiar com o trânsito e em especial os túneis do Rio de Janeiro a hipótese de acidente não seja estranha", embora a hipótese de que possa ter havido "jogo sujo" por parte de forças de segurança não esteja acompanhada de evidências e seja até mesmo esperada, a hipótese não poderia ser descartada.

      Uma semana antes do acidente, Zuzu deixara na casa do cantor Chico Buarque de Hollanda um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, onde dizia: Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho.

Fonte e fotos: Wikipedia

     


Um comentário:

  1. E hoje quando vejo o grande número de jovens e adultos imbecilizados pela mídia e pelo baixo clero político, judicial e evangelico, fico pensando: que gente porreta aquela.

    ResponderExcluir