quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

QUINTA FEMININA: A escritora que deu voz às mulheres chinesas

Programa de rádio, de onde extraiu os
relatos, durou de 1989 a 1997

      Com a abertura política da década de 1980 em seu país, a jornalista e escritora Xinran Xue, nascida na China em 1958, criou um programa de rádio que, durante oito anos, firmou-se como via de expressão para mulheres chinesas vítimas de violência. Impossibilitada de publicar os relatos, mudou-se para Londres e lá lançou, em 2002, As boas mulheres da China, onde conta historias reais de mulheres chinesas. Contos ternos e terríveis.

     Em Enterro celestial revelou um dos relatos mais impressionantes. É a  historia de Shu Wen, uma mulher que, em 1958, na China de Mao Tse-tung, parte em busca do marido, um médico do Exército Popular de Libertação que havia desaparecido na ocupação do Tibete, menos de cem dias após o casamento. O relato comovente dos 30 anos de uma busca amorosa contada para a escritora numa casa de chá, em 1994. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo,  há alguns anos, a escritora revelou ter ficado em choque com o relato de Shu Wen. 

     Integrou a equipe do jornal The Guardian até 2008 e publicou suas colunas em O que os chineses não comem. Também escreveu Testemunhas da China, no qual cidadãos chineses, já idosos, relembram os anos sob o governo de Mao Tse-tung.

     Em As Filhas Sem Nome, conta a historia de dez mulheres que penaram sob a lei que valoriza quem tem um filho homem e inferniza quem insiste em criar uma menina. Devido à restrição, milhões de garotas já foram abortadas, quando não afogadas em penicos. As que sobrevivem, são dadas à adoção, enquanto que mães biológicas recorrem ao aborto para aliviar o remorso. Xinran mal conviveu com seus pais, sendo criada pelos avós. Minha mãe não me abandonou. Foi doutrinada  para colocar o partido em primeiro lugar. Qualquer um que valorizasse, primeiramente, os próprios filhos, era considerado capitalista. Minha mãe acreditava nisso. Um dia, quando a encontrei, perguntei se realmente se importava com o que tinha acontecido comigo. Ela não gostou da pergunta. A verdade é que sinto falta dessa resposta. Quando viajo, é comum encontrar chinesas adotadas que querem ter notícias de suas mães. Não importa a idade, nem a língua que falem, sempre perguntam a mesma coisa: "Por que minha mãe não me quis."

     

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