Suicídio entre os médicos é uma ocorrência comum. A depressão é uma das principais causas |
E quando chega o momento da escolha, o que menos pesa - porém o que deveria ser o fundamental - é se o candidato realmente sente-se atraído afetivamente pela área escolhida. Para isso, é importante tentar buscar respostas para questões que vão muito além do retorno econômico que a profissão poderá render ao futuro profissional.
Ainda no topo das escolhas, para muitos a Medicina é uma área que continua despertando interesse, além de sinônimo de status. Alguns pais sentem-se aliviados por conseguirem tirar do filho a opção por uma área "com menos glamour", digamos assim, que ele desejava há tempos. Médico ganha bem, professor passa fome. Focados no aqui e agora, de fato eles têm razão; mas intimamente, o filho não tem tanta certeza.
A incerteza na escolha, somada à falta de visão da profissão, podem ser uma das razões pelas quais o suicídio entre os médicos é muito comum. É preciso entender a área médica como um todo. A falta de cuidado com a saúde mental leva médicos à depressão, dependência química e ao suicídio.
No livro Médico como Paciente, a autora em psiquiatria Alexandrina Meleiro acredita que a autossuficiência é a palavra que pode sintetizar a dificuldade que o médico tem de procurar ajuda quando adoece. "Sentimentos como onipotência e vergonha fazem com que muitos profissionais assumam a automedicação. As consequências são variadas, mas quando o assunto é saúde mental, vemos a categoria amargar incidência alta de dependência química, depressão e taxa de suicídio", afirma a autora e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da ABP, e também membro do Grupo de Atenção da Saúde Mental do Médico.
Para o coordenador da Comissão de Atenção à Saúde Mental dos Médicos e membro emérito da Academia Mineira de Medicina, José Raimundo da Silva Lippi, a falta de condições de trabalho, excesso de carga horária, tensão da relação médico-paciente, são alguns dos fatores que aumentam a vulnerabilidade do médico em relação a outras profissões. "É alguém que convive com a frustração de não ter conseguido salvar uma vida. As vezes, por imaturidade ou por se considerar um 'semi-deus' sofre mais do que os outros", avalia. De acordo com ele, a depressão é a doença mental mais comum entre a classe. A autora do livro chama a atenção para um problema ainda maior. "Os médicos se suicidam cinco vezes mais que a população em geral. Os mais vulneráveis estão na faixa etária de 35 a 50 anos.
Versões para o suicídio
De modo geral, o suicídio é um tema tão complicado que é estimado um número duas ou três vezes maior em razão da subnotificação ao registrar a causa da morte. Quando uma pessoa comete um suicídio, existe uma tendência entre os médicos não registrar o suicídio como causa da morte. Geralmente registra-se a causa externa da internação, como por exemplo, queda de altura, envenenamento, intoxicação exógena (excesso de remédios). Segundo Alexandrina Meleiro, a razão por essa subnotificação pode ser também em razão dos seguros de saúde e de vida não cobrirem situações de ato voluntário contra a própria vida.
No entanto, um levantamento de atestado de óbitos feito pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, o Cremesp, mostrou que quando a profissão da vítima era a medicina, a palavra suicídio aparecia. Uma das hipóteses é que, por se tratar de um colega, o rigor da notificação é maior.
Realidade norte-americana
Segundo a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio, 300 a 400 médicos cometem suicídio a cada ano, cerca de um médico por dia. A formação médica envolve inúmeros fatores de risco para a doença, tais como transição de papéis, diminuição do sono, traumas, mortes, doenças, tragédias e muitos outros acontecimentos inerentes à sua vida profissional. Um conjunto de testes demonstrou que a residência médica, os estágios e outras formas de treinamento médico, são de alto risco no que concerne a depressão e pensamentos suicidas.
Todas as profissões têm seu "lado B". Analisar e estudar as várias questões que envolvem a área pretendida pode prevenir frustrações futuras.
Fonte: Sites UAI
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