sábado, 6 de junho de 2015

Brasil tornou-se um país menos desigual nos últimos 50 anos, avalia estudo

Avenida Paulista em 1976. Ao fundo, construções dos Bancos Real e Tokyo 
Se você tem mais de 50 anos de idade, provavelmente tenha conseguido perceber mudanças consideráveis no Brasil de 1960 para cá. Segundo levantamento do Centro de Estudos da Metrópole, apresentado no livro Trajetórias da Desigualdade - Como o Brasil 
mudou nos últimos 50 anos, o Brasil se tornou um país menos desigual em vários aspectos. No entanto, ainda persiste a desigualdade entre brancos e negros no mercado de trabalho. O Brasil de 2010 é um país menos desigual que o Brasil de 1991. O trabalho é o primeiro grande balanço produzido pelas ciências sociais sobre as transformações pelas quais o Brasil passou em meio século. Inclusive, esse estudo contrariou as expectativas das ciências sociais. "Existia um bom-senso antigo, mais ou menos estabelecido, de que, num país como o Brasil, isso nunca aconteceria", comenta Marta Arretche, diretora do CEM, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, FFLCH, da Universidade de São Paulo.


Rua Conselheiro Crispiniano, região central de SP, em 1960
A universalização do direito ao voto, do acesso ao ensino fundamental e a expansão dos serviços como a água encanada e a energia elétrica derrubaram barreiras que, 25 anos atrás, excluíam grupos sociais e moradores das regiões Norte e Nordeste do mapa de desenvolvimento do país. Ainda resistem desigualdades importantes no mercado de trabalho: homens ainda ganham mais que as mulheres e brancos estão melhor colocados que negros. A propósito, a desigualdade entre brancos e negros foi a que teve a menor redução, inclusive na escolaridade.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores do CEM fizeram tabulações próprias dos dados dos Censos Demográficos de 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. A grande vantagem brasileira, segundo a diretora, é que por aqui, "temos uma grande disponibilidade de dados, que são abertos e públicos, o que não acontece em muitos países, inclusive alguns desenvolvidos. Temos acesso a dados de longo prazo, que permitem realizar estudos que mostram as grandes transformações pelas quais o país passou". 


Rua Augusta, nos tempos atuais
E por que pensar em desigualdade como parâmetro de garantia na melhora do brasileiro? Porque tradicionalmente, a ciência social define a desigualdade de renda como meio de avaliação; apesar de que o termo "desigualdade" abrange um conceito de multi-dimensional. "A renda não esgota as dimensões da desigualdade; ela é expressão de outros fatores.  Por isso, o livro consegue mostrar como as desigualdades são afetadas pela participação política, pelo acesso à educação, ao mercado de trabalho, pelas migrações, questões de gênero, relações raciais, saúde, religiosidade, condições de habitação e de infraestrutura urbana. 

A pesquisa mostra um Brasil que, em 1960, era majoritariamente rural e com ofertas de trabalho muito concentradas nas regiões Sul e Sudeste. A mão de obra abundante e com baixa escolaridade da década de 60 já não existe mais. O trabalho confirma a importância das políticas públicas para a redução das desigualdades. Segundo a diretora, a política educacional a partir do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso produziu um efeito de diminuição das desigualdades de acesso à escola e, posteriormente ao mercado de trabalho. No governo do ex-presidente Luis Ignácio Lula da Silva, os principais avanços foram na redução da extrema pobreza e na redução das desigualdades regionais, com avanços nas regiões Norte e Norde, principalmente. A grande massa de dados está disponível no site do CEM (www.fflch.usp.br/centrodametropole).

Fonte: Site USP
Foto 1: Acervo São Paulo Antiga
Foto 2: Marvine Howe/Associated Press
Foto 3: Internet

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