quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Sinais de uma doença silenciosa: a expressão não verbal como diagnóstico da depressão

Um médico clínico atento à expressão não verbal da depressão
pode indicar uma investigação mais profunda quando for o caso
      Dados da Pesquisa Nacional da Saúde, de 2014, apontou que 11 milhões de pessoas têm depressão no Brasil. E os números podem ser ainda maiores caso seja possível a realização de um diagnóstico mais preciso. Porque geralmente o diagnóstico da depressão e a avaliação de resultados do tratamento são feitos mediante a aplicação de questionários-padrão. As respostas do entrevistado, juntamente com as observações do entrevistador, possibilitam definir o quadro e, depois acompanhar a evolução da pessoa. Esse tipo de instrumento tem a vantagem de estabelecer uma linguagem comum, universal. Mas depende essencialmente daquilo que a pessoa fala. E negligencia outro aspecto, o da comunicação não verbal, que é exatamente aquilo que a pessoa não fala. E é este o ponto de partida da pesquisa Indicadores de expressividade e processamento emocional na depressão, realizada no Hospital das Clínicas e no Hospital Universitário, ambos veiculados à Universidade de São Paulo, a USP.

     A expressão não verbal é definida por um amplo conjunto de parâmetros corporais, como postura de ombros e cabeça; movimentos de cabeça, gerais ou de concordância/ discordância; curvatura da boca; sorriso (simétrico ou assimétrico), movimentações de sobrancelhas; contato ocular; corpo inclinado na direção do entrevistador, silêncio, choro, entre outros.

     Este tipo de análise mostra que a expressão não verbal pode confirmar ou desmentir a expressão verbal. Daí a importância de incorporá-la ao processo de diagnóstico e avaliação. "A comunicação não verbal é uma resposta reflexa. E, a menos que haja da parte do entrevistado uma determinação e uma capacidade muito fortes de controlar a linguagem do corpo, esta tenderá a expressar aquilo que não é exposto na fala, que não passa pelo crivo da fala. Principalmente no contexto clínico, a pessoa pode querer mostrar uma melhora, que efetivamente não teve, ou pode tentar esconder uma melhora, com medo de perder o atendimento. A comunicação não verbal ajudará o avaliador a formar um quadro mais realista", explica Clarice Gorenstein, professora do Instituto de Ciências Biomédicas e coordenadora da pesquisa.

Fonte: Agência FAPESP

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