terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Preconceito ainda impede ensino de literaturas africanas

Um dos temas para abordar a cultura de um
continente com mais de 50 países, pode ser
colonização que aproxima o Brasil de tantos países
africanos que passaram pelo mesmo processo
       Muitos não sabem, mas a Lei Federal 10.639/03 determina que os conteúdos sobre história e cultura africana e afro-brasileira devem ser abordados em todos os níveis de ensino das redes privada e pública de todo o País. Mas na prática, nem sempre isso acontece. A dissertação de mestrado Literaturas africanas e afro-brasileira no ensino fundamental II, do professor de Língua Portuguesa e Literatura André de Godoy Bueno, mostra que ainda hoje há universidades que não trabalham esse conteúdo na formação docente. O que faz com que a abordagem em sala de aula depende mais da iniciativa pessoal do professor, incluindo a busca por material didático.

      Bueno aplicou um questionário com 15 perguntas a 30 professores, sendo 15 do município de São Paulo, e 15 de escolas estaduais das cidades de Guarulhos, Mauá, Indaiatuba e Marília. As perguntas abordavam desde o conhecimento da Lei até a forma de aplicação do conteúdo. Ao comparar as redes de ensino, o professor constatou que, dos 15 professores da rede municipal, 11 trabalham com o conteúdo de literaturas africanas e afro-brasileiras em sala de aula. Já na rede estadual, são 9 os professores que tratam o tema.

Casos de preconceito

      Na prática, fica evidente os casos de preconceito com os quais os professores são obrigados a ter de lidar quando tentam aplicar a Lei. Um dos professores contou que uma colega de profissão de uma escola municipal resolveu trabalhar o significado da palavra "macumba" (que pode ser um instrumento musical ou uma árvore). No entanto, alguns pais reclamaram, pois acreditaram tratar-se de uma abordagem religiosa. E a direção da escola pediu para a professora da escola não realizar o trabalho.

      Em outro relato, uma professora do estado contou que utilizou, no ensino médio, um documentário a respeito dos rituais religiosos africanos para falar sobre cultura. Dois alunos se levantaram e se recusaram a assistir, pois disseram que aquilo não fazia parte da religião deles, que eram contra e se retiraram da sala.

     Para o pesquisador, também entre os professores há também preconceito; alguns acham que a literatura africana vai falar de aspectos religiosos. Por outro lado, há os que aplicam a lei por diferentes razões. "Muitos abordam a literatura africana e afro-brasileira porque são negros, outros porque se interessam pelo tema, mas há os que não o fazem ou por não se interessarem ou por não terem formação específica. Além disso, segundo Bueno, há uma falha no poder público, desde o Ministério da Educação, o MEC, até as secretarias estadual e municipal de educação. 

     A pesquisa foi apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a FFLCH, da Universidade de São Paulo, a USP.

Fonte: Agência USP

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