quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A fosfoetanolamina e a cura do câncer

Valor da cápsula de fostoetanolamina custa menos de
R$ 0,10
     Nas últimas semanas, tem sido divulgada uma notícia nas redes sociais sobre um medicamento desenvolvido pela Universidade de São Paulo, a USP, capaz de curar diversos tipos de câncer, e que cujo princípio ativo seria a fosfoetanolamina. Por conta disso, a Universidade se viu em meio a uma polêmica de que teria "descoberto" a cura para a doença. No entanto, em seu site, a USP divulgou um comunicado esclarecendo que a fosfoetanolamina não é um remédio.

     "Ela foi estudada na USP como um produto químico e não existe demonstração cabal de que tenha ação efetiva contra a doença: a USP não desenvolveu estudos sobre a ação do produto nos seres vivos, muito menos estudos clínicos controlados em humanos. Não há registro e autorização de uso dessa substância pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa e, portanto, ela não pode ser classificada como medicamento, tanto que não tem bula."

     E ainda, a produção da substância, por ser artesanal, não atende aos requisitos  nacionais e internacionais para a fabricação de medicamentos. "Por fim, esclarecemos que a fosfoetanolamina está disponível no mercado, produzida por indústrias químicas, e pode ser adquirida  em grandes quantidades pelas autoridades públicas. Não há, pois, nenhuma justificativa para obrigar a USP a produzi-la sem garantia de qualidade."

A polêmica

     O boato que circula na rede diz que a USP descobriu a cura do câncer, mas que a informação não havia sido, até então, divulgada, "porque o Governo não gosta da população". E que os laboratórios que distribuíam o produto foram cassados pela Anvisa, para que a população não fosse beneficiada com a cura.


Gilberto Chierice dedicou anos em pesquisas, ainda não
conclusivas, sobre a cura do câncer. E a fosfoetanolamina
foi estudada por ele, como um potencial remédio anticâncer
     Diz ainda, que os estudos com a substância começaram no início dos anos 90, coordenados pelo professor Gilberto Orivaldo Chierice, hoje aposentado, e que até 2014, havia a doação de cápsulas no Instituto de Química do campus de São Carlos. E uma portaria havia mudado o sistema. Por esta razão, pacientes com câncer passaram a reivindicar o direito à substância por meio de liminares judiciais.

     De acordo com usuários, familiares e advogados, a substância experimental produzida no campus de São Carlos acumula resultados satisfatórios no combate à doença, inclusive com relatos de cura, porém sem registro junto à Anvisa.

     A pesquisa do professor Chierice chegou a ter publicações científicas, mas as conclusões não são promissoras. No entanto, não é porque um artigo foi publicado numa revista científica que significa que seu conteúdo é válido. O químico acredita ter encontrado a cura para o câncer, o que é diferente de provar que encontrou a cura. Em suas entrevistas, predominam as expressões "eu acho", "eu acredito". E a Ciência não dá espaço para "achismos."

Ações judiciais

     Por liminares judiciais, a USP se viu obrigada a fornecer o produto para os que a solicitam. Os mandatos judiciais, segundo a nota, serão cumpridos dentro da capacidade da Universidade, já que não é uma indústria química ou farmacêutica e, por isso, não tem condições de produzir a substância em larga escala, para atender às centenas de liminares judiciais que recebeu nas últimas semanas.

     De acordo com a determinação nº 1389/2014, publicada pela diretoria da Anvisa, a produção e a distribuição de drogas com finalidade medicamentosa só podem ser efetuadas com a apresentação de licenças e registros. Como a fosfoetanolamina sintética não possui a permissão da Anvisa, parou de ser doada, obrigando os pacientes a recorrer ao Judiciário, o que resultou em liminares.

     "A USP estuda a possibilidade de denunciar, ao Ministério Público, os profissionais que estão se beneficiando do desespero e da fragilidade das famílias e dos pacientes. A Universidade entende a angústia de pacientes acometidos de doença grave. Nessas situações, não é incomum o recurso a fórmulas mágicas, poções milagrosas ou abordagens inertes. Não raro essas condutas podem ser deletérias, levando o interessado a abandonar tratamentos que, de fato, podem ser efetivos ou trazer algum alívio. Nessas condições, pacientes e seus familiares aflitos se convertem em alvo fácil de exploradores oportunistas."

Fonte: USP
 Foto:   E-farsas

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