quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O Discurso de Sportpalast e a visita de Bolsonaro à Rússia

No centro, a faixa com os dizeres: "Totaler
Krieg - Kurzester Krieg" (Guerra Total - 
A mais curta das guerras)

Os ideais nazistas não foram enterrados junto ao Terceiro Reich, como sabemos, assim como vemos seus fantasmas que dão as caras por aí e são trazidos para este Brasil, neste 2022, pelas mãos de um que ajeita a lapela do paletó, pelo outro que ergue o braço num gesto de saudação e um terceiro que sugere a criação de um partido nazista. Tais atos não são referências ao acaso, dizem mais da intenção que há por trás. Há razão de ser quando o sujeito do podcast apoia que simpatizantes do nazismo tenham uma sigla política para chamar de sua, ou quando o famosinho saído de reality show acena do mesmo modo como faziam os soldados nazistas. Simbólico perceber que dois dos fatos acima ocorrem justamente em fevereiro, mês em que 79 anos atrás foi proferido o Discurso de Sportpalast pelo ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels. O fato ocorreu em Berlim no dia 18 de fevereiro de 1943.

O que se pretendia, na época, era convocar os alemães a continuar lutando para derrotar o Bolchevismo, pois naquele momento a Alemanha enfrentava dificuldades e "para garantir a vitória sobre os aliados era preciso continuar a guerra. A derrota na Batalha de Stalingrado, razão de ser do discurso de Goebbels, foi um duro golpe para os alemães, motivo pelo qual na Rússia há um monumento como reconhecimento da resistência das tropas soviéticas ao Sexto Exército nazista. Por sinal, - e irônico - hoje, 16, o presidente Jair Bolsonaro, em visita a Vladimir Putin, deposita flores no túmulo do Soldado Desconhecido. 

Naquele pronunciamento, Goebbels explicou a ameaça ao Terceiro Reich representada pelo judaísmo internacional. "O objetivo do bolchevismo é a revolução mundial judaica. Eles querem trazer o caos", dizia. É fácil notar que o cerne do discurso era incutir o medo, como comumente se percebe nas falas das cópias brasileiras daqueles alemães. Os bolsonaristas propagam um medo infundado da volta de um comunismo irreal, que só existe na cabeça deles, mas que para se tornar eficaz Bolsonaro e seus seguidores incutem em seus discursos apontamentos morais-cristãos de que a oposição a seu governo busca "destruir a família, a moral e os bons costumes". Puro delírio de quem tem reais intenções de se perpetuar no poder. Hitler permaneceria no poder por mais dois anos, num governo que começara em 1933.

Bolsonaro na Rússia e o Discurso de Sportpalast são eventos cortados por um período de tempo de quase oitenta anos, no entanto, não se pode negar a correlação entre os fatos. Como vemos, o inimigo do presidente brasileiro não é a Rússia de Putin, mas comunistas brasileiros imaginários, para os quais a sua guerra ideológica aponta o seu canhão. Cabe destacar que um ex-secretário de Cultura de seu governo, Roberto Alvim, caiu depois de copiar uma citação do próprio Goebbels, de 1933, direcionada a diretores de teatro, para quem "a cultura deveria ser heroica, nacional e imperativa", assim como propagou Alvim. Coincidências? 

Texto: Elisa Marina

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