Imagem da câmera do quiosque registra o momento em que Moïse Mugenyi Kabagambe (bermuda vermelha) era observador por um dos homens minutos antes de ser assassinado/ Reprodução:TV Uol |
Isso exposto, é impossível não associar ficção com realidade quando nos vem à mente o assassinato brutal do jovem congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, nas areias do Rio de Janeiro, mais precisamente na Barra da Tijuca, ocorrida no último dia 24.
As cenas, a que hoje assistimos como telespectadores, nos mostram o jovem no quiosque Tropicália sendo observado por dois homens que, minutos depois, desferem nele duros golpes. Uma cena apavorante – e infelizmente, real - de tortura e morte. Moïse morreu sem receber duzentos reais, ganhos a que tinha direito, e pelos quais foi cobrar.
Como canta Chico Buarque na música “Construção”, Moïse morreu atrapalhando o trânsito, mas não as vendas. O corpo, amarrado e jogado no canto do quiosque, não interrompeu as atividades do quiosque, que certamente continuou a vender a bebida geladinha e refrescante para um calor que chegava aos quarentas graus, enquanto que o corpo de Moïse desfalecia a poucos passos dali.
Que o final desse filme trágico da vida real não decepcione sua família e aos que, indignados, pedem justiça, porque para aqueles presentes em cena pouco importa o desfecho, pois já cumpriram com o papel de atores coadjuvantes, e coniventes.
Texto: Elisa Marina
*Wolney de Assis foi um diretor e ator de teatro. Militante de Ação Libertadora Nacional (ALN) durante o período da ditadura militar. Seus poemas, escritos entre os anos de 1968 e 1969, inspiraram o monólogo Ainda Existem Auroras, dirigido por Walmir Pinto e interpretado por Carla Shinabe
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