quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Atemporalidade frente ao invisível amor






Um dia você acorda, e surpreendente acredita estar a dois dias do dia dos namorados. E está. Não, não está, porque é fevereiro, e você está no Brasil e ainda nem é carnaval. E a convicção, de tão absurda que é, desmorona como pedra à beira do barranco quando se sabe do grande equívoco cometido.

Durante toda a manhã, havia a elaboração de um fictício dia dos namorados a dias de acontecer, e tudo começou por um texto para esse blog sobre sessões de cinema ao ar livre, aqueles nostálgicos drive-in. 
Texto pronto, com um enunciado elaborado com frases romanceadas para celebrar o amor, e enviado, e respondido, e alertado. Elisa, o dia dos namorados no Brasil é em 12 de junho. Sim, claro, mas que bola fora a minha. Fevereiro, o mês simbolizado em mente, me soava tão enamorado, embora seja, mas longe desse corpo qualquer apego à cultura estrangeira. 
Amor, quando é você do qual eu me perdi no tempo? Já nem sei mais se é 2022, ou qualquer numeral antes de Cristo, e em segundos, chego à Atenas. Caminho por becos, até chegar à casa de Agatão, sabendo ser aquele o meu destino. Não bato à porta, entro de penetra na reunião de notáveis. Estão lá Sócrates, Aristodemo, Fedro, Alcibíades, Pausânias, Aristófanes e Erixímaco. Eles bebem mais que comem, e falam, e como falam! Entre goles e goladas, tecem elogios a Eros. E por lá eu me sento, no canto esquerdo. Eles não me veem, me agrada a invisibilidade, ali eu não sou real tanto quanto Eros é a mim irreal. Eu os vejo e ouço e ao amor sou apresentada, sem haver uma intenção deles para tal.Fedro me parece tão ingênuo quando descreve o amor puro entre os seres. Gosto da discrição de Aristófane, para quem somos metades a procura de nossos pares. Sócrates avança com mais profundidade quando diz que amor é o desejo faltante, e não possuidor. 
O castiçal na mesa me distrai, é uma linda peça, num bronze escuro. Olhar para a peça alivia e acalma a mente. Por que Sócrates me olhou? Será que me viu?Levanto para encher a minha ausente taça de vinhos, devolvendo a Sócrates uma igual encarada nos olhos, que se distrai com um cisco no olho. 
Volto para o meu canto, mas não me sento. Sinto-me mais confusa do que quando entrei. Saio de lá com o meu vestido século 21 bem depois de Cristo, e com dúvidas seculares. Percorro os corredores daquela cidade vazia de ano 2022. Não estão por lá os carros, a poluição, as luzes, os prédios, assim como eu não estou. Volto ao corpo matéria, à mente confusa.É fevereiro do calendário da era Cristã. Não há notáveis ao meu lado, só as notas de um rabisco para um texto que eu pretendia finalizar. Desisto dos escritos com o enigmático título “Quando você no meu real será?” Não quero mais rascunhar sobre aquele que nem seu dia sei. Platão no canto da minha sala me olha e ri. Amor, quando é você? It’s februery, and my soul just speak in english, not my body.

Texto: Elisa Marina

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