In Voluptas Mors(1951), três horas
para ser concluída
No entanto, quando o bloqueio acontece por ofensas a terceiros,
é compreensível a ação se a política da rede social consistir em evitar um ambiente
tóxico pelos comportamentos agressivos que vierem a ocorrer. Acontece que, a mim me causa espanto ver um
trabalho artístico censurado por causa de um viés conservador. Sim, ele existe
até dentro do admirável mundo moderno da tecnologia.
Salvador Dalí (1904-1989), o gênio pintor espanhol do
surrealismo, expressionismo e realismo teve uma obra censurada na rede social por não estar em
acordo com os “padrões daquela comunidade sobre nudez e
atividade sexual". Atividade?
Extravagante e ousado, Dalí sempre chamou a atenção pelo
figurino que mostrava uma personalidade excêntrica. Em 1925, realizou sua
primeira mostra individual, mas no ano seguinte, acabou expulso da Academia de
Artes por se desentender com um professor e declarar que ninguém por lá era
capaz de avaliá-lo, por sinal, como hoje parecem demonstrar os manipuladores
dos algoritmos que conduzem as ações nessas redes sociais. Aí então, a imagem
do bico de um seio torna-se censurável, e não importa o contexto em que esteja retratado o nu feminino, pode ser em uma foto
tirada numa praia de nudismo ou pintada em uma obra de arte antiquíssima, mesmo que ambas já tenham sido vista por milhões de pessoas nos museus da vida.
Por qual razão censura-se o bico de um seio? Afinal, de onde sai o alimento natural, necessidade primária de todo ser mamífero? Deturpado, o belo é transformado no feio, em algo repugnante, logo, razão de censura.
Trabalho faz parte de uma série de quadros vivos realizados por Dalí e Halsman |
In Voluptas Mors,
algo como “no prazer há morte”, foi concebida em 1951 por Salvador Dalí em
parceria com o fotógrafo Philippe Halsman. Nela, sete mulheres nuas se
posicionam de tal modo que uma caveira é formada com seus corpos. A performance
fez parte de uma série de quadros vivos que Halsman realizou com Dalí no final
dos anos de 1940 e início de 1950. Esses quadros exigiam muito trabalho, rolos
de filmes e horas de montagens para transpor em fotografias o imaginário
realista.
Se no prazer há morte, para Dalí e Halsman, há morte na arte? Ou a morte à arte é
prazer que satisfaz os conservadores que dela se utilizam para dar vida a seus
gritos reprimidos? Porque nem sempre a nudez deverá ser castigada.
Texto: Elisa Marina
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