quarta-feira, 13 de abril de 2022

A imprensa e o fuxico dos fatos

Lázaro Ramos estreia na direção de longa-
metragem com Medida Provisória/Reprodução:
Facebook
Era certo que, assim como a soma de dois mais dois é igual a quatro, haveria uma réplica do... daquele...do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo à resposta do ator e diretor Lázaro Ramos após sua presença no centro do programa Roda Vida da TV Cultura, ocorrida na última segunda-feira. O motivo da ira do servidor público bolsonarista ocorreu por conta de uma episódio recente relembrado pela jornalista Marina Caruso, em que Sérgio Camargo, e o... o... o secretário da Cultura, Mario Frias, criticaram publicamente ele, Lázaro, e sua companheira, a atriz Taís Araújo, dizendo que "o casal não faz nada pelo país". E mais, que "Taís Araújo seria uma mimizenta". A isso, Lázaro atribui o fato como uma cortina de fumaça, uma campanha política que se vale da notoriedade artística do casal. A atriz, ao participar de modo remoto do programa Altas Horas, no último sábado, chamou de "infernais", os anos do governo Bolsonaro. A partir de então surgiu a onda de ataques.  

Lázaro Ramos é diretor do filme protagonizado por Taís, Medida Provisória, de 2020, que só agora chega às salas de cinema. O longa de estreia do ator na direção de um longa conta a história de um Brasil distópico, no qual um governo não especificado decide enviar todos os cidadãos negros para viver na África para supostamente remediar os males causados pelos anos de escravidão. O filme é baseado na peça de 2011, Namíbia, não!, de Aldri Anunciação, também dirigida por Lázaro. 

Filmado em 2019, finalizado em 
2020, longa enfrentou resistência,
do governo, e só agora chega
às salas de cinema
 

Sergio Camargo embasou sua réplica a partir da própria sinopse do filme. "Os negros de esquerda deveriam ser mandados embora para a África", declaração essa postada em sua conta no Twitter, veículo pelo qual toda a verborragia bolsonarista é publicada, uma vez que a imprensa, desqualificada pelo próprio presidente, e ignorada pelo seu entorno, se coloca no triste papel de ser porta-voz de futrica. Para abastecer seus leitores com informações, esta chega a ultrapassar o limite da razoabilidade e se comporta como leva e traz dos fatos. Ora, se o próprio presidente praticamente só fala para a sua claque em seus canais pessoais, não estaria a imprensa servindo de expositora da popularidade de Jair Bolsonaro e seus apoiadores?

Evidentemente que, como chefe do Executivo, naturalmente ele é notícia quando de sua agenda oficial, no entanto, sabemos, que Bolsonaro não saiu do palanque desde 2018, terceirizando seu governo, para se valer apenas do papel de atacar aqueles a quem chama considera inimigos, aí vale para a imprensa, e até mesmo os imaginários. Lembremos que Bolsonaro chegou à presidência do país utilizando-se desses mesmos ataques midiáticos, que abriram caminhos para que o então parlamentar inexpressivo chegasse à grande imprensa e, assim, ganhasse popularidade. Afinal, de que outro modo um deputado federal pertencente ao baixo clero, com parcos projetos de sua autoria, se tornaria notícia? Seria arriscado projetar à imprensa a razão de sua ascensão política?  Talvez não.

Cercadinho, ou popularmente
conhecido como chiqueirinho,
é um espaço destinado para o
entretenimento infantil

Jair Bolsonaro, aquele que preside o Brasil, sempre deixou evidente a sua aversão à imprensa, discurso seguido em larga escala por seus apoiadores, estejam eles em cargos públicos, elegíveis ou não, ou então pessoas comuns que o idolatram e se identificam com os seus ideais. Sua propaganda pessoal se estrutura estrategicamente dos tuites diários, das lives semanais em seu canal no Youtube, e da exposição no "cercadinho" do Alvorada, espaço reservado no jardim da residência oficial do presidente da República.

De que valeram os ataques constantes nos últimos anos quando se nota uma imprensa subserviente e fuxiqueira? Informar pede sempre uma boa dose de sensatez, e dar palanque a mal político com o propósito de expor suas fraquezas pode ter um efeito contrário. E a história deixou isso bem claro nas eleições presidenciais de 2018.  

Texto: Elisa Marina

Fonte: Uol


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