Evento aconteceu no Cineteatro Wilma Bentivegna, em Suzano Foto: Escobar Franelas |
Quando em palco, Loyola repousa a caneta, e o microfone dá voz a histórias onde todas essas pessoas se encontram, e imortalizam-se em suas crônicas,
narradas com o mesmo encanto ao daquele jovem que quando dava os primeiros
passos no jornalismo ouviu o conselho do cronista que lhe inspiraria para a vida toda, Nelson Rodrigues, o anjo pornográfico, garoto, olhe para a janela. É lá que está a
vida. Afinal, a vida para Nelson, é como ela é.
Loyola, imortal desde 2019, foi luz aos mortais que se
dispuseram a ouvir suas histórias no dia de ontem, em uma quente noite de outono
na cultural cidade de Suzano. Ignácio de Loyola Brandão retornou à cidade como
escritor convidado da primeira edição pós-pandemia do Trajetórias Literárias, evento organizado pelo também escritor Ademiro
Alves, muito mais conhecido como Sacolinha.
Ao longo de sua carreira de escritor, o araraquarense Ignácio de Loyola publicou 47 livros, escreveu mais de 2.500 crônicas e inúmeros textos jornalísticos, muitos destes ganharam vida no extinto jornal Última Hora, nas revistas Cláudia e Vogue, só pra citar alguns veículos. Por sinal, foi nesta última em que tive a honra de ter Loyola como meu editor. Era 1997, lembro-me do dia em que cheguei à sede da revista Vogue para apresentar meus simplórios textos publicados nos jornais produzidos por nós, alunos de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes.
Livro, publicado em 1981, é um de seus livros mais vendidos |
Assim que entrei naquela mansão neoclássica, eu não tinha a pretensão de ser
recebida por ele, fui com o objetivo único de deixar meu currículo na recepção. Mas o
inesperado aconteceu. E eis que de repente, aquela mesma recepção servia de cenário para uma foca mostrar seus
escritos para um consagrado jornalista e escritor. E sobre o que ela falava? Da vida acadêmica, das áreas do conhecimento, e de trigonometria, um palavrão matemático que me causa arrepios até hoje. E
Loyola, com a sua gentileza e cordialidade, após passar os olhos pelas páginas do tabloide, fixa o olhar por minutos no meu texto, para depois erguer a cabeça, encarar uma amedrontada jornalista recém-formada, e pronunciar a frase mais imortal dentre todas: quem escreve sobre trigonometria pode
escrever sobre qualquer coisa.
Caro Loyola, hoje respondo àquela provocação de 1997. Já escrevi sobre muitas coisas. Com você, até o ano 2000, sobre moda e estilo de vida,
sem você, sobre política, erotismo e a perversidade humana. Mas com todo o prazer do mundo lhe digo
que nunca mais escrevi sobre trigonometria. No entanto, se um dia a pauta da
vez for sobre geometria ou qualquer outro palavrão do mundo das Ciências Exatas irei
entrar naquele transporte mágico que nos leva para o mundo da fantasia e de lá
retirarei o seu imortal conselho, que diz ser ela [a fantasia] que nos ajuda a suportar a vida.
E principalmente hoje, tempos em que a Cultura clama por
artistas insólitos, nos cabe também reproduzir a pergunta que intitula seu
livro recém-entregue à editora: Deus, Por
Que Você Não Diz O Que Quer De Nós? Contudo, se ele não nos responder, ainda assim nós continuarem em frente, porque com a nossa resistência imortal, aprendemos a fantasiar
a vida. E isso nos basta.
Texto: Elisa Marina
Belíssimo texto (crônica?!...) sobre uma noite inesquecível com um pensador memorável.
ResponderExcluirValeu, Escobar.
ExcluirConhecer a obra de Loyla Brandão, apó
ResponderExcluirs ler o texto da Elisa, se faz necessário.
Obrigada, leitor anônimo.
ExcluirÓtima texto sobre essa noite que pra mim já é memorável.
ResponderExcluirMemorável para todos... parabéns pelo seu trabalho.
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