"Marco Antônio nasceu Maria Antônia. Por anos, não aceitava seu gênero de nascimento. O sonho de Maria Antônia era ter idade e condições financeiras para a cirurgia de readequação da anatomia genital, a popular cirurgia para mudança de sexo. E conseguiu. No entanto, Marco Antônio, enquanto mulher, tinha uma amiga negra, cujo cabelo acompanhava os modismos da época. Maria Antônia não entendia porque Fabiana alisava seu natural cabelo crespo".
A historia acima é somente uma reflexão para ilustrar o preconceito "às avessas" pelo qual passam as mulheres negras que decidem alterar a estrutura de seus fios capilares, quando são julgadas por não aceitarem sua negritude. Embora possam parecer exemplos distintos, os dois casos tem muito em comum. Nascido como menina, Marco Antônio nunca aceitou seu gênero; nunca se viu como mulher. Quando pode, readequou sua anatomia genital ao seu cérebro masculino. E juntou-se ao grupo dos cerca de 1,2 mil homens e mulheres que já passaram pelo mesmo procedimento. Fabiana, por sua vez, tinha a sua disposição todos os cremes alisantes a venda no mercado. Ora alisava, ora deixava-os crespos. Já foi loira. Já foi ruiva. Fabiana podia não aceitar seu cabelo, mas amava a sua cor de pele, apesar de seu corpo miúdo e seu quadril pequeno estarem muito longe do padrão esperado para uma negra.
"A humanidade é diversa, respeitamos os desiguais! Não podemos ter preconceito, porque só cria obstáculos", falou o médico com maior número de procedimentos deste tipo, na América Latina, Jalma Jurado, durante o 22º Congresso Médico-estudantil, sob o tema "Medicina para um Novo Tempo".
Os exemplos acima citados servem para mostrar o direito que tem, ou pelo menos devia ter, todo e qualquer ser humano para escolher o que mudar, sem ser julgado por não aceitar seu gênero ou sua origem. Não se trata de ignorar uma raça, mas ser igualmente livre, assim como as mulheres de pele clara. Quantas também não alisam seus cachos, quando não os encrespam?
Fato mais que comprovado, o preconceito racial existe e através dele, vemos uma força opressora que insiste em mostrar para o mundo que no Brasil o negro é a minoria; vide propagandas publicitárias, filmes, novelas ou desfiles de moda. Só para citar alguns. Mas alisar os cabelos não significa ignorar este preconceito. No entanto, pode mostrar para o mundo que o negro tem o direito de ser como quiser.
Um viva para nosso lado camaleão. Um viva para a liberdade. E um viva a diversidade!
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