sábado, 28 de fevereiro de 2015

A gramática da desigualdade entre os gêneros



Em 1930, Amélia de Freitas Beviláqua, esposa de Clóvis Beviláqua, jurista, historiador, filósofo, autor do Código Civil Brasileiro e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, apresentou-se como candidata à cadeira de número 23, na ABL, vaga com a morte de Alfredo Pujol. Nascida no Piauí, filha de um desembargador, Amélia escreveu artigos para os jornais de Recife e foi diretora da revista O Lírio, de 1902 a 1904. Pertencia à Academia Piauiense de Letras, sendo autora dos romances Vestas, Açucena, Angústia e Através da Vida. Todo esse currículo não bastou para sua recusa. Zonzos e perplexos, os membros não sabiam como agir. Surgia um problema gravíssimo, pois uma pessoa do sexo feminino ousara candidatar-se a uma cadeira. A sessão daquele maio de 30 é aberta pelo presidente Aloysio de Castro. Este submete à apreciação da Casa a seguinte preliminar: tendo em vistas os Estatutos, um candidato do sexo feminino pode inscrever-se? Falaram sobre o assunto Constâncio Alves, Augusto de Lima, Silva Ramos, Afonso Celso, Roquette-Pinto, Alberto de Oliveira e Coelho Neto, sendo afinal resolvido por maioria que na expressão brasileiro do Artigo 2º só se incluíam indivíduos do sexo masculino. Votaram contra a restrição Adelmar Tavares, Luís Carlos, Afonso Celso, Augusto de Lima, Fernando de Magalhães, João Ribeiro, Laudelino Freire. Félix Pacheco, dado como presente, não compareceu e fez declaração de voto favorável. O veto à candidatura de Amélia de Freitas deu-se sob o argumento de que o “brasileiros” contido no Estatuto e no Código Civil de 1916 era um “substantivo masculino”. Dizia o Estatuto: "só podem ser membros da Academia Brasileira de Letras brasileiros". 

Em carta de 26 de agosto de 1930 a Laudelino Freire, Clóvis Beviláqua afirmava ser evidentemente injustificável a inteligência dada pela maioria dos acadêmicos, como inadmissível é supor que opinião nesse dia vencedora faça lei, não reunindo a maioria absoluta de membros da corporação”. Aditava: “Sinto que tenho de me alhear inteiramente desse caso. Fecharam rudemente as portas da Academia para Amélia. Não sofreu somente ela o golpe. Ambos nós o recebemos. E não parece bem a qualquer de nós praticar ato algum que possa ser interpretado como pedido de reconsideração da repulsa infringida.” Desde então Clóvis Beviláqua se afastou inteiramente da Academia, a ela não mais retornando apesar de numerosos apelos. Somente em 1970 foram alterados os Estatutos para permitir a candidatura de mulheres. 

Sabemos que a regra da Língua Portuguesa determina que o uso de um substantivo masculino no plural para designar um grupo constituído por homens e mulheres. No entanto, sinais de novos tempos parecem dar luz aos períodos retrógrados da nossa Historia. A edição da Lei de 12.605/12 significa um avanço extraordinário na concretização da igualdade de gênero no Brasil. “Determina o emprego obrigatório da flexão de gênero para nomear profissão ou grau em diplomas”. Determinando em seu artigo 1° que “as instituições de ensino públicas e privadas expedirão diplomas e certificados com a flexão de gênero correspondente ao sexo da pessoa diplomada, ao designar a profissão e o grau obtido”. Assim, a graduação em direito deve ser nomeada bacharel ou bacharela, com o desdobramento lógico jurídico imperativo na designação da profissão: advogado e advogada — com a obrigatória flexão de gênero refletida na nominação da Entidade de Classe, que tem por finalidade representar a advocacia brasileira, a OAB (artigo 44, da lei de 8.906/94). Neste sentido a OAB deve designar, segundo as regras da boa educação, Ordem das Advogadas e Advogados do Brasil. A sigla permanece a mesma, explica o advogado Antônio Oneildo Ferreira. Ainda precisamos caminhar muito por uma igualdade entre os gêneros. Mas enquanto isso, os versos do poeta e advogado Gregório de Matos Guerra, podem servir de incentivo. “O todo sem a parte não é todo, A parte sem o todo não é parte, Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga, que é parte, sendo todo.” Sejamos todas e todos. 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Triste vida de solteiro?

Não é difícil imaginar o quanto muitas pessoas acreditam que ser solteiro seja uma condição associada a uma vida triste e depressiva. Também pudera, a etimologia da palavra denota a isso. Do latim "solitarius", ou "só", definem os dicionários como "aquele ou aquela que AINDA não casou". Percebem que o termo "ainda", no imaginário popular, é aquele que por enquanto está solteiro, mas algum dia irá se casar. E saber que, por volta do século XVIII, definiam o solteiro como aqueles que viviam soltos e livres do jugo do matrimônio. Uma opinião nada favorável do casamento. 

Fato é que a associação aos tais "soltos e livres", perdura até hoje. Não, nem todos os solteiros estão soltos e livres a ponto de colocar em risco matrimônios alheios. Não, os solteiros não estão disponíveis ou desesperados a procura de um relacionamento. Não, os solteiros não carecem, a todo instante, ser apresentado a outro solteiro, para que este solteiro sinta-se completado. O solteiro não é o coitado. O solteiro não é o objeto sem-graça no canto da sala-de-estar. 

Sociedade, não é necessário lembrar o solteiro que ele é solteiro. Ele sabe que ele é solteiro, ainda mais quando vai ao supermercado. Por isso, indústria alimentícia, o solteiro carece de embalagens menores. Quem aguenta comer por dias pão-de-forma? Porque a embalagem tamanho família e o prazo de validade obrigam os solteiros a consumi-lo rapidamente. O solteiro pode sim, dormir consigo mesmo. Sim, ele pode viajar com a sua companhia. Ir a bares, restaurantes, shows. E não é difícil imaginar o porquê. O solteiro sabe que sua felicidade depende dele amar a si prórprio, mesmo que futuramente apareça em sua vida outro igualmente solteiro. E ele sabe também que ser solteiro está muito longe de ser sozinho. 

Portanto, ainda que houvesse vivo um de nossos antepassados, daquele século XVIII, certamente espantaria-se com a livre, informal e popular definição da palavra solteiro nos dias de hoje. Solteiros são aqueles que pertencem à Sociedade Organizada Livre de Traições e Erros. Independência, sem Remorsos ou Obrigações. Que tal filiar-se a ela?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Livres e leves. E com os cabelos soltos.

"Marco Antônio nasceu Maria Antônia. Por anos, não aceitava seu gênero de nascimento. O sonho de Maria Antônia era ter idade e condições financeiras para a cirurgia de readequação da anatomia genital, a popular cirurgia para mudança de sexo. E conseguiu. No entanto, Marco Antônio, enquanto mulher, tinha uma amiga negra, cujo cabelo acompanhava os modismos da época. Maria Antônia não entendia porque Fabiana alisava seu natural cabelo crespo". 

A historia acima é somente uma reflexão para ilustrar o preconceito "às avessas" pelo qual passam as mulheres negras que decidem alterar a estrutura de seus fios capilares, quando são julgadas por não aceitarem sua negritude. Embora possam parecer exemplos distintos, os dois casos tem muito em comum. Nascido como menina, Marco Antônio nunca aceitou seu gênero; nunca se viu como mulher. Quando pode, readequou sua anatomia genital ao seu cérebro masculino. E juntou-se ao grupo dos cerca de 1,2 mil homens e mulheres que já passaram pelo mesmo procedimento. Fabiana, por sua vez, tinha a sua disposição todos os cremes alisantes a venda no mercado. Ora alisava, ora deixava-os crespos. Já foi loira. Já foi ruiva. Fabiana podia não aceitar seu cabelo, mas amava a sua cor de pele, apesar de seu corpo miúdo e seu quadril pequeno estarem muito longe do padrão esperado para uma negra. 

"A humanidade é diversa, respeitamos os desiguais! Não podemos ter preconceito, porque só cria obstáculos", falou o médico com maior número de procedimentos deste tipo, na América Latina, Jalma Jurado, durante o 22º Congresso Médico-estudantil, sob o tema "Medicina para um Novo Tempo". Os exemplos acima citados servem para mostrar o direito que tem, ou pelo menos devia ter, todo e qualquer ser humano para escolher o que mudar, sem ser julgado por não aceitar seu gênero ou sua origem. Não se trata de ignorar uma raça, mas ser igualmente livre, assim como as mulheres de pele clara. Quantas também não alisam seus cachos, quando não os encrespam? 

Fato mais que comprovado, o preconceito racial existe e através dele, vemos uma força opressora que insiste em mostrar para o mundo que no Brasil o negro é a minoria; vide propagandas publicitárias, filmes, novelas ou desfiles de moda. Só para citar alguns. Mas alisar os cabelos não significa ignorar este preconceito. No entanto, pode mostrar para o mundo que o negro tem o direito de ser como quiser. Um viva para nosso lado camaleão. Um viva para a liberdade. E um viva a diversidade!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O estado civil do coração

Todo mundo sabe que um dia irá morrer. Mas e se tivermos a chance de adiar o quanto conseguíssemos esta viagem rumo ao desconhecido, certamente nos valeríamos dela. E os estudos estão aí para isso. Um deles revela que estar casado diminui as chances de desenvolver problemas cardiovasculares. Será? O autor da pesquisa, o médico Carlos Aviar, durante uma conferência de cardiologistas, em Washington, disse que solteiros, viúvos e divorciados tem mais chances a ter um "piripaque". Ele explica que as razões para isso estão ligados aos cuidados que os casados recebem de seus cônjuges. "Como os casados tendem a ajudar uns aos outros a ser mais saudáveis, assegurando que seu cônjuge se alimente bem, faça exercícios, tome seus medicamentos e ajude a ir a compromissos, as pessoas casadas tendem a ter menos risco de doenças do coração ", completou a doutora Suzanne Steinbaum, diretora do hospital Lenox Hill de Nova York, durante o American College of Cardiology. 

No entanto, não se desespere se você não pertence ao time dos que usam a argola na mão esquerda. Se sua intenção é se juntar ao grupo dos "felizes para sempre com você mesmo", um outro estudo pode ter dar bons motivos para proteger seu coração. Consumir vinho e azeite de oliva extra diminuem a possibilidade de ocorrência de acidentes cardiovasculares, pelo menos é o que revelam duas pesquisas da Universidade de Barcelona. 

O primeiro estudo, realizado pelo Grupo de Investigação de Antioxidantes Naturais da Faculdade de Farmácia da Universidade de Barcelona, incidiu particularmente sobre alimentos com polifenol, substâncias caracterizadas por terem um ou mais hidroxilas ligadas a um anel aromático, contidas no vinho e sementes. 

O outro teve como objetivo demonstrar que o consumo de azeite virgem extra reduz o risco de enfermidades cardiovasculares em pessoas com um risco alto. Para isso, o grupo de trabalho contou com a participação de investigadores da Universidade Rovira i Vergili, de Tarragona, realizando uma segunda pesquisa em pessoas com idades entre 55 e 80 anos. Como sabemos que tantos outros fatores influenciam para a saúde do coração, seria ingênuo demais fazer destes dois estudos, o caminho para o fim dos problemas cardiovasculares, principalmente para os casados e amantes de um bom vinho. 

Tim-Tim!!!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O castelo real de Jack Ma

Nas tantas entrevistas de emprego que fiz, confesso que nunca entendi o real sentido das temíveis dinâmicas de grupo. Já tive que construir castelinhos com palitos de fósforo. Procurar uma foto em meio a tantos famosos, na busca de perfis semelhantes aos meus, entre outras... E ainda que julgue patético, você o faz porque quer a todo custo aquela vaga, mesmo sabendo que há claras segundas intenções naquele processo. 

Julgam o seu comportamento a todo instante. Quem fala muito é tido como líder ou persuasivo? Calar-se e ficar no papel de observador, pode parecer indiferente e com grande dificuldade de relacionamento em grupo? Quem te observa, observa o que? Defensores da prática, acreditam ser o meio mais prático e democrático na contratação do funcionário para a preterida vaga. Será? Com esses métodos, o mercado de trabalho absorve os melhores profissionais? 

Talvez, Jack Ma, o segundo homem mais rico da China, discorde. Com uma fortuna pessoal estimada em 22 bilhões de dólares, o empresário foi rejeitado em nada menos que 30 empregos. Até a rede de fast-food KFC não quis lhe dar emprego, disse ele em entrevista ao colega Charlie Rose. Dos 24 candidatos à vaga, 23 foram os contratados. O único que ficou de fora, tempos mais tarde criou a maior companhia de e-commerce do mundo, o Alibaba. Além de ser chamado de louco quando decidiu criar o sistema de pagamento online atualmente usado por mais de 800 milhões de pessoas, o Alipay. 

Não sei se Jack Ma algum dia teve que construir castelinhos com palitos, mas sua fortuna lhe permite construir castelos, digamos assim, mais habitáveis. Resta saber como é o processo seletivo de emprego pelas mãos de Jack Ma.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Um diálogo com as estrelas

Há muito tempo, pensava em criar um blog, mas até então sentia que a inspiração ainda não era suficiente. E confesso, que a pouca familiaridade com esse mundo tecnológico, me fazia adiar a ideia. Como acredito que para tudo há o momento certo, este é o meu.
Não gostaria de escrever, por escrever... Mas fazer com que minhas palavras pudessem sacudir os ouvidos inquietos e atentos dos que observam e acompanham os rumos da nossa sociedade.
Neste espaço, quero falar dos mais variados assuntos, com vocês, minhas estrelas.
 
Para cria-lo, o difícil foi dar-lhe um nome. Pensei em vários... E cheguei à Labareda Carmim, pela junção de dois substantivos que muito tem a ver com essa pessoa que vos escreve. Segundo nosso Aurélio, a palavra labareda significa uma grande chama ou língua de fogo, intensidade, ou vivacidade. Ou então, a maior força de um sentimento, uma paixão, fogo, ardor. E como sagitariana que sou, o fogo é o meu elemento e a intensidade, o meu norte. Não curto nada morno, nada mais ou menos, e não me identifico com tons pastéis. Vermelho é a minha paixão; carmim, o meu fogo.
 
Um vez criado, e a fim de não usurpar nome alheio, numa  breve pesquisa pela internet, chego numa canção: "Diálogo com as estrelas". Um composição da banda sueca de folk/viking metal Vintersog, que parece ter ido ao encontro do meu objetivo. Por isso, compartilho com vocês, um trecho traduzido da letra.
 
"Brilho ardente de uma estrela sobre meu rosto,/ O monumental céu noturno revela suas tochas./ Inalterados por eras, apaixonados eles chamejam/ Como diamantes ornamentais/ No foco do meu telescópio, uma luz estridente/ Conjura-me fixamente./ Oh, que drama colorido,/ Que performance teatral./ Estas inúmeras estrelas/ Me encantam com sua excentricidade./ No hall de entrada do cosmos/ Onde o tempo e o espaço unem-se numa charada./ Debaixo de labaredas carmim, eu observo/ A tempestade do universo./ Numa perfeição escura./ Eu noto este clarão esplendoroso".
 
NOTA: A título de esclarecimento, em função da falha no meu HD e da tão falada dificuldade com essa tecnologia, havia criado um outro pelo "wordpress". Portanto, ambos são meus, mas escreverei somente nesse.