Em foto na Avenida Paulista, Pelé simula uma conversa com Felipão, então técnico da Seleção Brasileira na Copa de 2014/ Sebastião Moreira (EFE) |
Nasci no ano de 1974, ano em que o Rei Pelé deu por
encerrada a sua atuação com a camisa da seleção brasileira. E desde sempre
cultuei uma admiração pelo astro que sequer vi jogar; o Pelé que conheci era o das
reprises que traziam para os meus sete, dez, doze anos de idade jogadas espetaculares
que não via sair dos pés dos jogadores que estavam por defender as cores verde
e amarela da Canarinho nas copas que se seguiam.
No entanto, em paralelo ao futebol, naqueles tempos a televisão, os jornais e as muitas revistas de fofocas publicavam histórias
sobre a vida particular do rei. Estavam ali o namoro com outra realeza, Xuxa, a rainha dos baixinhos, cujas matérias davam status de monarquia à relação. Teve também um suposto
namoro com a primeira miss Brasil negra, Deise Nunes, e que viria pôr fim a especulações de que Edson Arantes do Nascimento, não mais Pelé, somente se relacionava com mulheres
branca.
E então o episódio mais midiático de todos, e que levou os brasileiros para o ringue das paixões. O reconhecimento da filha Sandra Regina que ocorreu após uma
midiática disputa judicial. A partir de então, muitos que diziam admirar o rei
passaram a desprezá-lo.
Confesso que isso não mudou em nada o que pensava sobre ele, talvez porque algo da jornalista que eu ainda não era já vivia em mim; e, portanto, ouvir o outro lado era uma lição que a faculdade de jornalismo me daria tempos depois. E foi como jornalista que tive a oportunidade de ter um breve contato com Pelé. Foi em 2012 quando trabalhei na Cinearte, produtora responsável pelo filme Pelé Eterno (2004), dirigido por Aníbal Massaini, amigo próximo do rei, e meu chefe à época.
Próximo ao horário do almoço, o telefone toca. Na ausência da secretária de Massaini, coube a mim atender aquela ligação cuja voz que saía do outro lado da ligação era impossível não saber de quem se tratava. Foram segundos de um diálogo do qual eu nunca me esqueci, e que eu reproduzo a seguir:
- Cinearte bom dia.
- Ô minha querida, eu
queria falar com o Aníbal.
- Pelé??? Tudo bem?? [Como eu resisti em não falar muito mais com você? Por que a tietagem não foi mais forte do que o que determina certa etiqueta profissional? E continuei: Só um instante,
por favor.
Repassei aquela ligação com a sensação de dever
cumprido, mas sabendo que o arrependimento perduraria por toda a minha vida, jamais saiu de mim, a fã. Para Pelé, fui
apenas uma “querida” qualquer, a funcionária próxima ao telefone no horário em que ligou. Para mim ele era o Pelé, aquele Pelé, não qualquer Edson, mas o Edson Pelé, o Pelé
Edson, quais sejam os seus nomes próprios. Era ali, foi e será por muito tempo o brasileiro mais embaixador do
Brasil que até hoje existiu.
Não trabalho mais na Cinearte, e caso ousadia fosse o meu sobrenome em 2012, talvez a fã adormecida de outrora teria dado àquela Elisa
Marina a demissão por justa-causa mais celebrada dentre todas. E pode ser que eu teria sido para aquele Pelé mais uma Elisa, ainda assim com nome próprio, e não somente uma “querida”. Porém, quis o destino assim que eu guardasse aquele momento sem nenhuma prova material, não tenha gravação, e o Pelé não está mais aqui para confirmar. Tenho guardado comigo tão-somente a lembrança o registro que de tempos em tempos a minha fiel memória traz à tona.
Por: Elisa Marina
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