quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Poética ou pecadora, mas sempre presente a preguiça


Preguiça (2017), Óleo em Tela, Veloso - Portugal
Série de obras do artista português Veloso tendo como
temática os sete pecados
Que preguiça de escrever esse texto, mas é preciso, e por quê? Para homenagear a sempre presente preguiça e com a qual convivemos desde a tenra idade. A depender do ponto-de-vista, ela pode ser amiga ou inimiga. E é tolerante, pois incorpora em todos os corpos,  independentemente de raça, credo, ou preferência política. Nas mulheres, nos homens, nas pessoas LGBTQIP+. Brasileiros ou estrangeiros, altos ou baixos, brancos, pretos ou amarelos, afinal, quem é que nunca sentiu aquela preguicinha no meio do dia? Pois bem, hoje é o Dia Internacional da Preguiça. Até ela tem uma data só sua, seja para comemorar, reverenciar ou criticar. 


Entende-se por preguiça a falta de disposição para realizar determinada tarefa, ou até mesmo uma aversão ao trabalho. No entanto, não há definições psiquiátricas que classifiquem a preguiça como patologia, mesmo porque momentos de ócio são muito indicados para a manutenção da saúde mental. Porém, a preguiça pode ser sintoma de algumas patologias, tais como a narcolepsia, e a depressão, por exemplo.

Mas a preguiça pode servir de inspiração para poetas, como quando Manoel de Barros diz: tenho preguiça de ser sério. Já Mario Quintana foi mais incisivo. A preguiça é a mãe do progresso/ Se o homem não tivesse preguiça de caminhar/ Não teria inventado a roda. Na contramão dos poetas, o físico Albert Einstein dizia que a leitura após certa idade distrai excessivamente o espírito humano das suas reflexões criadoras. Todo o homem que lê demais e usa o cérebro de menos adquire a preguiça de pensar. Uma definição que se aproxima do vazio existencial e inquietante de Charles Bukowski. Tudo o que era mau atraía-me: gostava de beber, era preguiçoso, não defendia nenhuma opinião política, nenhuma ideia, nenhum ideal. Eu estava instalado no vazio, na inexistência, e aceitava isso. Tudo isso fazia de mim uma pessoa desinteressante. Mas eu não queria ser interessante, era muito difícil. Fernando Pessoa via na preguiça, liberdade, uma fuga às obrigações e às maçadas que implicam. Ai que prazer/ Não cumprir um dever/Ter um livro para ler/ E não o fazer!/ Ler é maçada,/ Estudar é nada./ O sol doira/ Sem literatura.

Por outro lado, o catolicismo com seu fundamentalismo nada poético, e muito menos científico, apresenta a preguiça como um de seus sete pecados capitais, caracterizado pela pessoa que vive um estado de falta de capricho, de esmero, de empenho. Nas escrituras cristãs, esse pecado é visto como um vício primário, mais perigoso e debilitador do que o orgulho ou a inveja, um tipo de exaustão do espírito.

A preguiça é sua, ela lhe pertence, lhe toma com efeitos paralisantes, angustiantes ou estimulantes. Seja como for, se você chegou até aqui, é provável que a leitura desse texto não lhe tenha causado preguiça, o que para uma jornalista é a satisfação máxima de seu trabalho, que é fazer a mensagem chegar - por completo - a seu destino, ainda mais quando em tempos de redes sociais, por preguiça, o leitor reduz a leitura de uma notícia apenas ao seu título, e que como consequência, o nível de compreensão dos fatos não ultrapassa a superficialidade. Que preguiça desses tempos!

Elisa Marina

 

 

 

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