terça-feira, 23 de agosto de 2022

Elisa, a Lispector que grande parte do Brasil desconhece

 

Início na literatura ocorre aos 34
anos de idade. Parte do acervo da 
escritora pertence ao Instituto
Moreira Salles/Foto: Blog do IMS

 A escritora, contista e jornalista Elisa Lispector nasceu Leah Pinkhasnova Lispector em 24 de julho de 1911, na cidade de Savran, a sudoeste da Ucrânia. Em razão da Revolução Russa de 1917, a família Lispector passou a sofrer com a perseguição aos judeus, por isso, em 1920, todos eles embarcaram em um navio com destino ao Brasil, em Maceió chegaram em 1922. Com exceção da irmã do meio, Tania, todos os demais mudaram de nome. Leah virou Elisa Lispector. O pai passou a se chamar Pedro; a mãe Mania, Marieta; e Haia, a caçula, Clarice. Três anos depois, a família mudou-se para o Recife, e por lá Elisa Lispector cursou a Escola Normal e o Conservatório de Música. Tempos depois, em 1935, a família deixa o nordeste e se muda para o Rio de Janeiro.

Fez carreira no serviço público federal, chegando a representar o Brasil em uma reunião realizada no Peru para estudar os problemas da mão de obra feminina na América Latina. Depois de aposentada, passou a dedicar-se às colaborações em periódicos, como o Diário de Notícias.


Estreou na literatura em 1945, aos 34 anos de idade, com o romance Além da Fronteira. Elisa fazia uso de um monólogo interior com discursos irônicos em terceira pessoa. Com O Muro das Pedras (1963), obteve os prêmios José Lins do Rego, em 1963, e Coelho Neto, em 1964, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Percorreu os caminhos da literatura, como Clarice, mas diferente da irmã, seus livros não se encontram nas livrarias do Brasil, e seu nome não ecoa por aí em postagens nas redes sociais com frases de efeito, como ocorre com Clarice Lispector, embora boa parte delas não seja de sua autoria, mas fazem Clarice tornar-se cada vez mais popular, mesmo entre os que jamais leram seus livros.

Da esq. para a dir., as irmãs
Tania, Elisa e Clarice Lispector
em fotografia tirada em 1920.
Foto: Folha de S. Paulo

No entanto, não cabe aqui qualquer tipo de comparação literária entre as irmãs; apesar de ser quase que inevitáveis abordagens dessa natureza. Mas sim dar protagonismo, pro ora, a Lispector autora de sete romances e três contos publicados e um inacabado.

 

De Elisa Marina para Elisa Lispector, um encontro em 1978

Assim como a maioria dos brasileiros, eu, Elisa Marina também escritora, contista e jornalista, desconhecia a literatura dessa outra Elisa, a Lispector. Foi depois de assistir a uma peça de teatro baseada nas cartas trocadas entre as irmãs Lispector, em razão das constantes viagens de Clarice com o marido diplomata, Maury, e certamente também atraída pela coincidência dos nomes, procurei por mais informações acerca da minha xará nascida sessenta e três anos antes de mim, e que nos deixou quando eu não tinha nem quinze anos de idade, sem livros publicados mas com uma inquietação de escritora ainda não chancelada.

A dificuldade em encontrar seus livros me frustrava de sobremaneira, mas eu não desistia, e foi graças aos sebos da vida que eu consegui adquirir dois dos onze por ela escritos. Um desses, inclusive, traz uma preciosidade de valor afetivo imensurável.

O ano era 1978, eu tinha quatro anos de idade, ainda não alfabetizada, e na capital fluminense o escritor mineiro Oscar Mendes, imortal da Academia Mineira de Letras, recebia das mãos de Elisa Lispector uma dedicatória em uma das páginas de seu O Dia Mais Longo de Thereza (1965), livro este que agora repousa verticalmente na minha estante rústica de livros. Penso aqui na longa viagem que esse exemplar deve ter percorrido, e por quantas mãos deve ter sido tocado até ter como destino um caixote amarelo que dá corpo a minha biblioteca, e que aguarda pela minha próxima imersão literária, que de algum modo fará o meu texto conversar com a literatura de Elisa Lispector, sendo o tempo o protagonista da história.

Texto: Elisa Marina



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