terça-feira, 28 de junho de 2022

Bate-papo entre amigos de Berta e Wolney leva emoção ao Armando de Ré

 

Zé de Riba (à esq.), João de Paula, Luiz
Valcazaras, Carla Shinabe, Walmir Pinto,
Heraldo Guiaro e Pedro Barreto/Foto: Elisa
Marina

Quem esteve na noite da última sexta-feira no auditório Armando de Ré foi testemunha da emoção causada pelo bate-papo que ocorreu após a apresentação do monólogo “Ainda Existem Auroras”, tanto na plateia quanto – e muito mais – naqueles que trabalharam diretamente com Wolney de Assis e Berta Zemel, os homenageados da 11ª Mostra de Referências Teatrais de Suzano. 

Walmir Pinto, diretor da peça inspirada nos poemas de Wolney, no palco do teatro, e na companhia de seus bons e velhos companheiros, trouxe para o presente o Wolney amigo, a Berta diretora. Ou seria o contrário? Talvez uma junção disso tudo, porque  Wolney e Berta cabiam em todos os papéis pelos olhares de Walmir, de Heraldo Guiaro, de João de Paula, de Zé de Riba, de Luiz Valcazaras, e de Carla Shinabe.

“As sementes que foram plantadas lá atrás estão aí, todas elas estruturadas fisicamente”, destacou Heraldo Guiaro que hoje é gestor do Parque Augusta, na capital paulista, e que trabalhou com Wolney de 1986 a 2003. Para ele, o “Auroras” é o fruto de uma semente de outrora, como também um dia será semente que irá fazer surgir outras árvores. Ele se refere ao espetáculo, mas pode ser também ao trabalho da atriz Carla Shinabe, aluna de Wolney, e da safra de novos atores.

João de Paula conviveu por mais de quarenta anos com Wolney, e mesmo sendo seu conterrâneo, foi somente em São Paulo que o encontro ocorreu. De Paula foi secretário e iluminador do antigo Teatro Móvel. Visivelmente emocionado, o ator disse que assistir ao “Auroras” o fez sentir-se também representado em palco.

“Minha relação com Wolney durou dez anos, a quem defino como uma pessoa da maior estatura moral. Meu convívio com ele se dava de segunda a sábado, porque o domingo, ah, o domingo era dia do amor, quando Wolney dedicava suas vinte e quatro horas a estar com a sua amada Berta”, Pedro Barreto assim descreveu a íntima e apaixonante relação entre Wolney e Berta. Já Zé de Riba, em tom de crônica, levou para o palco do Armando de Ré o Wolney poeta e conselheiro, e que lhe orientava tanto na arte quanto na vida. “O amor é para sempre. Às vezes munda de endereço. E vai embora”, declamou Zé de Riba um poema de Wolney.

Para o diretor de teatro Luiz Valcazaras o “Auroras” é muito mais que um monólogo, mas um apanhado de tantos outros personagens de Wolney, ou de Berta. Talvez porque Valcazaras sua análise carrega aquele seu olhar peculiar que fora essencial para trazer de volta ao palco Berta Zemel, depois de um hiato de mais de vinte anos fora da cena artística, quando deixou de lado a carreira para ser a companheira fiel de um Wolney militante político nos anos de chumbo da ditadura militar. E não lhe cabia papel melhor do que dar vida ao anjo duro Nise da Silveira, a psiquiatra que humanizou o atendimento aos esquizofrênicos, indo contra as torturas praticadas na época.

A vida e obra de Berta e Wolney são imortais, como também as marcas que deixaram para além do fazer artístico. Como exemplo, Pedro Barreto contou da homenagem do restaurante paulistano Península ao professor Wolney de Assis, ao nomear a sopa La Professore ao frequentador da casa. Por sinal, foi por ali que Walmir Pinto e Carla Shinabe também buscaram inspiração para escreverem o monólogo. Provavelmente porque pisar no mesmo chão que Wolney e Berta pisaram foi, de alguma maneira, conectar-se com as tais sementes que ambos espalharam pelos chãos de São Paulo. E também de Suzano.

Texto: Elisa Marina



Nenhum comentário:

Postar um comentário