Zé de Riba (à esq.), João de Paula, Luiz Valcazaras, Carla Shinabe, Walmir Pinto, Heraldo Guiaro e Pedro Barreto/Foto: Elisa Marina |
Quem esteve na noite da última sexta-feira no auditório Armando de Ré foi testemunha da emoção causada pelo bate-papo que ocorreu após a apresentação do monólogo “Ainda Existem Auroras”, tanto na plateia quanto – e muito mais – naqueles que trabalharam diretamente com Wolney de Assis e Berta Zemel, os homenageados da 11ª Mostra de Referências Teatrais de Suzano.
Walmir Pinto, diretor da peça inspirada nos poemas de Wolney,
no palco do teatro, e na companhia de seus bons e velhos companheiros, trouxe
para o presente o Wolney amigo, a Berta diretora. Ou seria o contrário? Talvez uma
junção disso tudo, porque Wolney e Berta
cabiam em todos os papéis pelos olhares de Walmir, de Heraldo Guiaro, de João
de Paula, de Zé de Riba, de Luiz Valcazaras, e de Carla Shinabe.
“As sementes que foram plantadas lá atrás estão aí, todas
elas estruturadas fisicamente”, destacou Heraldo Guiaro que hoje é gestor do
Parque Augusta, na capital paulista, e que trabalhou com Wolney de 1986 a 2003.
Para ele, o “Auroras” é o fruto de uma semente de outrora, como também um dia
será semente que irá fazer surgir outras árvores. Ele se refere ao espetáculo,
mas pode ser também ao trabalho da atriz Carla Shinabe, aluna de Wolney, e da safra
de novos atores.
João de Paula conviveu por mais de quarenta anos com Wolney,
e mesmo sendo seu conterrâneo, foi somente em São Paulo que o encontro ocorreu.
De Paula foi secretário e iluminador do antigo Teatro Móvel. Visivelmente emocionado,
o ator disse que assistir ao “Auroras” o fez sentir-se também representado em
palco.
“Minha relação com Wolney durou dez anos, a quem defino como
uma pessoa da maior estatura moral. Meu convívio com ele se dava de segunda a
sábado, porque o domingo, ah, o domingo era dia do amor, quando Wolney dedicava
suas vinte e quatro horas a estar com a sua amada Berta”, Pedro Barreto assim
descreveu a íntima e apaixonante relação entre Wolney e Berta. Já Zé de Riba,
em tom de crônica, levou para o palco do Armando de Ré o Wolney poeta e conselheiro,
e que lhe orientava tanto na arte quanto na vida. “O amor é para sempre. Às
vezes munda de endereço. E vai embora”, declamou Zé de Riba um poema de Wolney.
Para o diretor de teatro Luiz Valcazaras o “Auroras” é muito
mais que um monólogo, mas um apanhado de tantos outros personagens de Wolney,
ou de Berta. Talvez porque Valcazaras sua análise carrega aquele seu olhar
peculiar que fora essencial para trazer de volta ao palco Berta Zemel, depois
de um hiato de mais de vinte anos fora da cena artística, quando deixou de lado
a carreira para ser a companheira fiel de um Wolney militante político nos anos
de chumbo da ditadura militar. E não lhe cabia papel melhor do que dar vida ao
anjo duro Nise da Silveira, a psiquiatra que humanizou o atendimento aos
esquizofrênicos, indo contra as torturas praticadas na época.
A vida e obra de Berta e Wolney são imortais, como também as
marcas que deixaram para além do fazer artístico. Como exemplo, Pedro Barreto
contou da homenagem do restaurante paulistano Península ao professor Wolney de
Assis, ao nomear a sopa La Professore ao frequentador da casa. Por sinal, foi
por ali que Walmir Pinto e Carla Shinabe também buscaram inspiração para
escreverem o monólogo. Provavelmente porque pisar no mesmo chão que Wolney e
Berta pisaram foi, de alguma maneira, conectar-se com as tais sementes que
ambos espalharam pelos chãos de São Paulo. E também de Suzano.
Texto: Elisa Marina
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