Zé Celso durante a Mostra de Teatro de Suzano, que ocorreu ano passado/ Foto: Elisa Marina |
Já disse o quanto admiro esse artista que ultrapassa todas as fronteiras da liberdade do corpo e da mente para fazer jus ao teatro que idealizou com o seu Oficina, fundado em 1958.
De um lado, seu sonho verde de um parque no Bixiga, do outro, mais um empreendimento cinza a fazer a fortuna de SS aumentar mais e mais e mais. Figuras expoentes, cada qual em seu ofício, e que deixam em evidência o abismo colossal que há entre visões de mundo opostas. Dinheiro e arte não falam a mesma língua, o Deus dinheiro é incapaz de ouvir o Deus arte que, por sua vez, reivindica tão pouco ao Deus dinheiro para existir, que dirá resistir.
As horas, os meses, os anos que se levam para produzir um texto, daí a produzir um espetáculo, para finalmente fazê-lo brilhar no palco de um teatro, não se traduzem em ganhos financeiros, pelo contrário, ficam tão abaixo disso que num instante final aceita-se qualquer merreca, porque o prazer de dar corpo ao idealizado em mente, e de modo tão solitário, supera a insignificância que donos dos baús da vida subjugam o artista.
Triste sociedade que valora o concreto e da às costas para a poesia, que enxerga a geração de empregos pelo viés do mercado da produção de bens tangíveis que não o da literatura que provoca o desconforto, que endeusa os CEOs e diminuiu os SEUs Oh dramaturgos, que inutiliza IPhones tão facilmente e nem utiliza sabiamente as salas de teatro, que paga altos preços pelas cadeiras das arenas de futebol, e nem sequer se aproxima das arenas dos picadeiros onde se produz a arte das trupes mambembes.
Em seus mais de oitenta anos de existência, a maior parte dele ouvindo mais aplausos que vaias, talvez o solo do chão paulistano seja mais fértil por onde pisou Zé Celso e nele despejou sementes do que aquele concretado pelas máquinas dos megaempresários que em deboche jogam notas de real em dobraduras de avião, e isso não tem nenhuma graça artista.
Muitos vivas à arte, e a arte de ser de Zé Celso a própria arte.
Textos e foto: Elisa Marina
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