segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Visibilidade às três milhões de pessoas para quem o Brasil recusa enxergar


Em 29 de janeiro comemora-se o Dia da Visibilidade Trans no Brasil, que nada mais é do que um dia para lançar um olhar para os cerca de três milhões de pessoas socialmente invisibilizadas, de acordo com o primeiro estudo acadêmico a avaliar a proporção de pessoas identificadas como transgênero ou não binárias que vivem no país, organizado pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista. Isso corresponde à 2% da população adulta. Quando se olha com mais atenção a essas pessoas, percebe-se em que condições vivem. Somente na cidade de São Paulo, a média de idade não ultrapassa os 35 anos, uma vez que mais expostas ficam a todas as formas de violência, lembrando que o Brasil lidera o ranking de países em que mais se mata pessoas LGBTQIA+. E além da violência física, há a camuflada violência social pelo desamparo do mercado de trabalho. Um estudo com mais de 1,7 mil mulheres trans, travestis, homens trans e pessoas não binárias, realizado entre o Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec) e a Secretaria Munucipal de Direitos Humanos de São Paulo, mostrou que 58% desses indivíduos realizam trabalho informal ou autônomo, de curta duração e sem contrato. E mais, em decorrência dos preconceitos sofridos, o abandono escolar é recorrente entre essas pessoas. Mas um caminho estreito começa-se a abrir, graças a políticas de ações afirmativas iniciadas por pessoas assumidamente trans que ingressaram no ensino superior, e então hoje vemos pessoas trans lecionando em universidades, menos de vinte, um número bem inexpressivo dentro do meio acadêmico. Por isso que, mais que um dia, essas pessoas devem ser vistas todos os dias e em todos os setores da sociedade. 

Texto: Elisa Marina 
Fonte: Revista Fapesp 
Imagem: TNB Stúdio

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Você tem medo de que?

Frente à morte, o medo de se perceber como 
um solitário jogador no embate chamado vida

 Morrer! Provavelmente esta seja a resposta de cem entre cem pessoas. E esse medo pode ser que passe pela incerteza frente ao desconhecido. Talvez, facilitaria se a nós nos fosse dado, desde o nascimento, um desconhecido um pouco mais conhecido, como por exemplo, uma extensão, no além-morte, das nossas relações pessoais e, por que não, materiais, e o exercício consistiria em idealizar despertar em uma cama, no centro de um quarto dentro de uma casa semelhantes àquelas em que se viveu no plano carnal.

Dito isso, penso que temer a morte pode ser bom, no sentido de que enquanto não se dê o finito da vida, todas as formas de recomeço estão postas, e assim uma reconfiguração da vida a que se conhece. 

A minha última postagem neste blog ocorreu no ano de 2016. De lá para cá, traí o blogger com o wordpress, e com ele nasceu a Elisa Marina autora de três livros, quando, seis anos atrás, o romance Filhos do Silêncio era a minha única publicação, e então nasceram o livro de contos Quando e o de contos eróticos Pronome Pessoal, este último deu vida à Lih Miranda, pseudônimo através do qual dei vazão para escritos até então adormecidos.

Volto a este blog no ano de 2022, quando o Brasil contabiliza o número de 625 mil mortes por Covid-19 de uma pandemia que acaso fosse anunciada em 2016 seria motivo de gozação ou considerada historinha para boi dormir. No entanto, o boi dormiu, e não somente ele, como todo o rebanho apavorado com as notícias de um vírus que colocou em cheque a existência humana, e por causa disso a histeria configurou-se. 

Empregos foram perdidos, a crise econômica instaurou-se! E Bolsonaro é presidente. Como assim, perguntaria a Elisa Marina de 2016 para a Elisa Marina de 2022. Aquele ser tosco, deputado federal do baixo clero, presença constante em programas de gosto duvidoso, chegou ao poder? Sim, responderia com expressão de sarcasmo a escritora dos tais três livros publicados. E Elisa de 2016, embora haja vacina para o vírus da Covid-19, para o verme de 2022 só há um caminho possível, por ora, para a sua eliminação: as eleições deste ano. A propósito, apenas para te esclarecer, em 2022 há pessoas que dizem que a terra é plana e que as vacinas implantariam um chip em suas correntes sanguíneas. Então, certeza de que você quer percorrer esses seis anos que nos separam? Sim, me responde Elisa com seus 41 anos de idade.

A pandemia é a realidade nua e crua do que antes nos contavam os livros de história. Isso, talvez explique esse medo generalizado? Aquela gripe espanhola de 1918, da qual ouvíamos falar, é hoje a nossa Covid-19 que nos coloca como partícipes em tempo real de uma história que vai ser contada no próximo século. E aqui cabe um spoillér, em 2122 estaremos todos mortos.