Mosca macho emite vibrações como forma de cortejar a fêmea |
Ela voa, e seu bailado desenha no ar sinuosas curvas idiossincráticas. Ali, ela é apenas uma bailarina solitária e invasora sem importância nenhuma para os donos da casa, e muito menos para a aranha deitada em sua teia no canto do chão de madeira, que não faz ideia de que sua fome poderia ser saciada com o alimento que voa dois metros acima do seu cansaço.
A mosca pousa onde seus instintos de inseto entendem ser seguro, a saber, o canto esquerdo do batente, cuja porta permanece aberta e muda, para alívio da mosca, que quer silêncio absoluto na casa que habita há meia-hora, apesar de ser uma mosca sem ter a posse de uma escritura da casa que ocupa.
Dali, ela os vê chegar, em passos lentos e corpos enroscados, o casal de humanos deixa-se cair na cama bagunçada, e por onde ela, a mosca, esteve minutos antes, impregnando nos lençóis de seda um odor fétido de restos da comida que apodreciam na lixeira da cozinha, cômodo este que ela conhecia melhor que os donos de fato e de direito do imóvel.
Pelo canto dos olhos, ela vê o humano macho despir o humano fêmea em lentidão semelhante a seu voo. Ela então dá dois passinhos para a direita se posicionando num ângulo perfeito para apreciar o vai e vem daqueles corpos. Os humanos alternam suas posições na cama.
Moscas acasalando encontradas em âmbar de 41 milhões de anos. Imagem: Jeffrey Stilwell |
Presa à parede, ela vê os corpos grudados, enquanto os sinais que emite são captados pelo outro invasor, a mosca fêmea, que voou por todos os cômodos da casa até encontrar-se com seu par, tomada de instintos primitivos de fêmea, e logo pousa ao lado do seu macho, excitada também assisti ao coito alheio.
A mosca dominante e o macho humano conduzem suas fêmeas para dentro de seus corpos, cada qual se satisfazendo à sua maneira.
No entanto, antes que ambos cheguem ao ápice do clímax, o humano abandona a sua fêmea e um cheiro forte nada excitante, porém sufocante invade o cômodo, e o suficiente para enrijecer seus corpos que paralisados caem ao chão num silêncio sepulcral.
Por Elisa Marina
Nenhum comentário:
Postar um comentário